“É um presente envenenado”: a expressão foi usada pelo presidente da União Desportiva da Serra no dia em que festejou a subida ao Campeonato de Portugal, e é repetida agora, poucas semanas após o arranque da competição de futebol que acumula despesas.
Feliz pela prestação dos jogadores que estão a apenas três pontos da liderançaa, Amândio Santos faz contas à sobrevivência do emblema do concelho de Leiria. Às facturas habituais, “que já não eram poucas”, como as taxas de jogo e de policiamento “que num jogo em casa têm custos superiores a mil euros”, soma a escalada de preços que se reflete nas deslocaçõs e no uso de instalações próprias.
“Estamos com muita dificuldade em conseguir suportar todos estes custos porque o aumento do gás, do gasóleo e da luz tem sido tramado. Estão a dar cabo de nós”, atira.
Só o gasóleo usado para o aquecimento da água dos balneários, por exemplo, sofreu um “aumento do dobro”, face ao último ano.
“O clube devia caminhar para as fontes de energia mais ecológicas e económicas, mas isso obriga a investimentos de médio e longo prazo e as direcções têm dificuldade em comprometer o futuro”, explica.
“Grato pelo apoio ao desporto” que recebe da autarquia, com um complemento por ter instalações próprias, lamenta que esteja “longe de fazer face à realidade”.
A solução, acrescenta o presidente, tem sido “recorrer às empresas e à realização de actividades”.
Clubes com instalações são mais prejudicados
A dificuldade de financiar projectos desportivos não é novidade, nem exclusiva de algumas modalidades. Mas, como sublinha o presidente da Juventude Desportiva do Lis, “se já não era fácil, agora mais complicado e preocupante se torna”.
“Começamos a sentir o aumento da electricidade no final do ano passado, quando estávamos a pagar quase três vezes mais que no ano anterior. Com o arranque do campeonato de andebol e das deslocações para os jogos, o aumento do preço dos combustíveis também acabou por se repercutir num agravamento substancial nos custos, de cerca de 46%”, explica Joaquim Santos.
Admitindo que “os valores estão a começar a disparar, face ao que estava orçamentado”, o presidente adianta que vai “aguardar até ao final do ano para ver se isto tem alguma volta”.
Lamentando não haver a criação de apoios às associações para esta situação, admite que o futuro dever passar por “arranjar novas formas de financiamento ou reestruturar as despesas”.
Café e eventos ‘alimentam’ projectos desportivos
Além de cortar nas despesas e procurar apoios de empresas, há clubes que alicerçam os projectos desportivos nas verbas angariadas através da exploração de café e de eventos na sede.
É o caso do Centro Popular Recreativo Pocariça que, além de apostar na formação e competiçao de futsal, é reconhecido por investir em diversas iniciativas.
“Dependemos muito do bar porque isso que sustenta tudo o resto, mas temos de colmatar as restantes necessidades com eventos”, explica a presidente, Rute Martins.
Com os preços a subir, admite que a primeira medida será “aumentar o café e a pastelaria”, mas garante que isso “serve apenas para não ter prejuízo, não resolve todos os problemas”.
“A electricidade está a subir muito, o gasóleo também e nota-se bastante nas deslocações que fazemos com as equipas”, explica, ciente de que será necessário continuar a apostar “nos eventos e nos clientes” para alimentar o sonho desportivo.