Amarelos, cor-de-rosa, brancos, castanhos ou cinzentos. São estes os tons com que se apresentam os cogumelos produzidos pela Serra da Lua, uma empresa familiar, localizada em Cabeça Veada, Porto de Mós, que produz cerca de 300 quilos de cogumelos por semana, vendidos a restaurantes gourmet ou vegetarianos da região, chegando já a 13 concelhos dos distrito de Leiria e Santarém.
Foi a vontade de “quebrar” a rotina que levou Carla Vitorino, técnica de higiene e segurança no trabalho, a procurar um negócio alternativo ao qual se associou depois o marido, Luciano Vitorino, que é professor de Matemática.
Após cinco anos de experiências e de formação na área, a Serra da Lua tornou-se uma realidade em 2013. Começou por produzir duas espécies de cogumelos; hoje são já dez, cultivadas através de método “100% natural”.
[LER_MAIS] O processo é iniciado com a produção de substrato, uma mistura feita numa betoneira – isso mesmo, uma betoneira –, à base de pallets de pinho, milho britado, farelo de cereal, girassol e água.
Esse composto é depois colocado em sacos próprios, importados dos EUA, onde são depositadas as sementes, também elas adquiridas a um produtor estrangeiro, uma empresa belga que lidera o mercado europeu nesta área.
Antes da inoculação das sementes, o composto é sujeito a um processo de pasteurização – no caso dos cogumelos menos susceptíveis a contaminação (pleurotus) -, ou de esterilização – para as espécies consideradas exóticas, por serem mais difíceis de frutificar.
Segue-se, a fase da colonização, que ocorre numa das cinco salas de frutificação da exploração, onde os fungos se desenvolvem dentro dos sacos, dando origem aos cogumelos. Este processo pode demorar “entre três a sete semanas”, dependendo das espécies. O número de colheitas varia também em função do tipo de cogumelos.
“Numas espécies, podemos colher durante seis a sete meses. Noutras, fazemos apenas uma colheita em cada saco”, explica Luciano Vitorino. Para o sucesso do processo, “é essencial garantir um ambiente controlado, ao nível da temperatura, humidade, luz e CO2”.
De forma a assegurar essas condições, as instalações estão equipadas, por exemplo, com uma máquina que elimina mosquitos e outra que garante “ar puro a 99%”. Há também um controlo “rigoroso da temperatura”, o que obriga a grandes consumos de energia.
No final do processo, “o substrato está esgotado para a produção de cogumelos, mas constitui um excelente composto para ser utilizado na agricultura ou jardinagem, sendo encaminhado para esses fins”, acrescenta Luciano Vitorino.
A indústria farmacêutica pode ser o próximo passo. A empresa foi recentemente contactada por uma farmacêutica portuguesa que quer produzir medicamentos à base de cogumelos e por investigadores do Instituto Superior Técnico, que estão também a trabalhar nesta área, que manifestaram interesse nos cogumelos produzidos pela Serra da Lua, nomeadamente, a sua 'joia da coroa', a espécie juba de leão, “cujas qualidades terapêuticas tem vindo a ser evidenciadas por várias estudos científicos”.