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Estar com a cabeça nas nuvens é, muitas vezes, sinónimo de distracção ou de estar alheado da realidade. Mas é quando Pedro Gomes, Rafael Fernandes e Alfredo Dias estão com a cabeça nas nuvens que se sentem mais concentrados e, sobretudo, concretizados.
O primeiro, já director de instrução no Aeroclube de Leiria, e os outros dois, ainda pupilos, falam com o mesmo entusiasmo sobre a paixão de pilotar aviões e aeronaves. Embora com objectivos profissionais diferentes, têm em comum o gosto de viajar a milhares de metros de altitude.
No caso de Rafael Fernandes, de 33 anos, o ‘bichinho’ pela aviação acompanhou-o toda a vida, desde criança. Tentou ingressar na Força Aérea para perseguir este sonho, mas não passou pelos testes fiísicos.
A vida levou-o para a engenharia electrotécnica, área em que se formou, e aproveitou o arranque da carreira profissional para “juntar um dinheirinho” e começar a tirar o Curso de Piloto Privado de Avião.
Ultrapassada a componente teórica do Curso Integrado de Piloto de Linha Aérea (ATPL), bastante exigente, Rafael Fernandes continua na parte prática e já contabiliza cinco horas de voo. Pretende seguir a carreira comercial.
“Considero que a teoria do ATPL é muito mais exigente que a teoria de um curso de engenharia mecânica em que, em cerca de uma semana antes do teste, vamos recapitular a matéria dada. No ATPL tem de ser um estudo contínuo. Senão, perdemos os conceitos”, explica o aluno.
E que conceitos são. Pedro Gomes, director de instrução do Aeroclube de Leiria, brinca quando diz que um piloto é uma mistura de “um meteorologista, com navegador, mecânico, e também com algum treino de habilidade e trato fino de pilotagem”. Várias profissões cabem na de piloto e não basta entender o que cada botão faz no painel de instrumentos.
A teórica do Curso de Piloto Privado de Avião vai desde o direito às regras do espaço aéreo, à mecânica, aerodinâmica, performance consoante a metereologia, percepção sensorial, navegação, entre outros.
A lista é longa e cada aluno toma o seu ritmo, até porque as aulas realizam-se em horário pós-laboral, adequado a quem tem outra profissão.
Só após a aprovação em todas estas matérias é que o aluno ‘salta’ para dentro da aeronave. Mas não começa logo a pilotar. “O primeiro voo é muito demonstrativo de como é que se vão desenrolar as aulas”, adianta o também piloto da TAP.
Recorde de horas voadas
Apesar de este curso exigir o pagamento avultado, na ordem dos nove mil euros, o Aeroclube de Leiria tem registado números recorde das horas voadas.
“No ano passado tivemos cerca de 1.200 horas voadas, um número nunca antes alcançado. Há quatro ou cinco anos, esse valor tinha andado na ordem das 300 horas”, esclarece Pedro Gomes.
E é nas redes sociais que o piloto encontra a justificação para o crescimento da procura pelo Aeroclube, já que o feedback de quem vive a experiência de ‘Piloto por 1 Dia’ ou dos ‘Voos Panorâmicos’ tem promovido a divulgação.
Há 15 anos ligado ao Aeroclube de Leiria, Pedro Gomes teve um percurso semelhante àquele que Rafael Fernandes está a ter. Lembra- se de, enquanto criança, correr para a rua quando ouvia um avião da Força Aérea e sempre pensou que a única maneira de pilotar seria através da carreira militar.
Seguiu pela engenharia mecânica e conheceu o Aeroclube de Leiria. “Na altura até estava a fazer um mestrado, só me faltava a tese, até isso larguei”, recorda.
Ao curso de piloto privado seguiu- se a formação modular num curso comercial, a formação de instrutor e depois de linha aérea. Começou este ‘longo percurso’ com 30 anos e conta com experiência em mais de 100 aviões, estando prestes a chegar às sete mil horas de voo.
Também Alfredo Dias começou ‘tarde’ nesta vida aérea. Aos 45 anos, fez o primeiro curso de ultra-leves, que têm “algumas limitações” e, cinco anos passados, quis experimentar as aeronaves.
No entanto, esta actividade é “puro prazer”. Tem o seu próprio ultra-leve baseado em Benavente e, muitas vezes, viaja até lá de carro só pelo prazer de, a seguir, estar aos comandos desse avião.
“Fiz a minha primeira aula há uns dias e foi quase como se nunca tivesse voado. Era tudo muito diferente”, descreve o informático de profissão.
Este aluno quer tirar o curso e aproveitar para viajar para fora do País, por sua conta. A primeira paragem, após concluído o curso, será Espanha. “Talvez Santander, tenho lá família. Depois, por essa Europa fora.”
A responsabilidade de voar conjunga-se com a liberdade e a perspectiva do mundo, “completamente diferente”. “Quando se está lá em cima, os problemas desaparecem”, resume.
