Até ao fim deste mês, a Barão de Viamonte (Rua Direita), em Leiria, irá perder quatro espaços de comércio, ficando “mais pobre”.
Falta de clientes ou obras nos prédios onde estão instalados alguns dos negócios são os motivos que ditam o seu encerramento ou a mudança para outro local.
“Há algum movimento, mas de pessoas a passear ou que frequentam os restaurantes. A rua não é procurada para compras”, constata Bruno Rodrigues, que esta segunda-feira fechou a loja que tinha naquela artéria, e que não chegou a estar um ano aberta.
A Fina & Strada vendia sapatos, malas, carteiras, cintos e outros artigos “de qualidade”. O jovem – que tem uma loja no centro da Marinha Grande e abriu na zona histórica de Leiria por acreditar que poderia funcionar ainda melhor do que na cidade vidreira – diz que “os encargos eram muitos” e que as vendas não eram suficientes.
Também a loja Jóias da Cidade vai fechar na Rua Direita, mas reabrir noutra zona do centro histórico. Sandrine Vieira partilha a opinião de que há pessoas que passam naquela artéria, mas não param para fazer compras.
“A feira medieval, evento extraordinário, com o qual concordo, não teve impactos na minha loja. Só vendi aos clientes habituais, não a forasteiros”, exemplifica. “A alma da Rua Direita acabou. Já não é uma rua de comércio como era há 20 anos”, lamenta.
Naquele espaço, aberto há dois anos, estavam à venda artigos da marca Jóias da Cidade, objectos de autor e joalharia contemporânea. Sandrine Vieira diz que várias das suas clientes se queixavam de que “a rua é escura e não oferece segurança”, nomeadamente porque há prédios com telhas em risco de cair.
Por isto, e pela falta de clientes, resolveu sair da Rua Direita. “Há um trabalho muito grande da parte dos comerciantes [para se manterem], mas não há recompensa, diz a jovem, que espera que com a requalificação de alguns prédios a zona volte a ser atractiva. Acredita, contudo, que para tal será também necessário um trabalho “muito grande e profundo”.
[LER_MAIS] Depois de mais de 20 anos de portas abertas naquela artéria, a Sapataria Fátima vai fechar no final de Agosto, porque o prédio onde está instalada entrará em obras. “Não compensa mudar para outro lado, porque teria certamente de pagar uma renda alta, enquanto a que pago aqui é bastante acessível”, explica Maria de Fátima Serrario.
“Mesmo estando as vendas fracas, não sairia daqui se não fossem as obras”, garante a comerciante, para quem o fecho de várias lojas na Rua Direita torna a zona “mais pobre” e “mais esquecida”.
Situada no mesmo prédio, a Casa das Chaves de Leiria mudará para outra zona, mas não ficará na Rua Direita. “Estamos a analisar várias possibilidades, não está ainda nada decidido”, conta Herlander Teixeira.
O comerciante frisa que “é difícil sair”, mas admite que depois disso acontecer dificilmente voltará a instalar-se nesta artéria da cidade que, lamenta, “está morta” em termos de comércio e de afluência de clientes.
“Conheci esta rua com o maior movimento da cidade. Vivia cá muita gente. Agora não. Falta estacionamento e as pessoas não vêm. Os parques subterrâneos acabaram com o estacionamento à superfície”, lamenta Manuel Moreira, proprietário da Chapelaria Liz, que há não muito tempo chegou a equacionar fechar o espaço (ver caixa).
“Em praticamente todos os espaços já conheci vários ramos de negócio e caras diferentes”, diz, para explicar a rotatividade que se verifica naquela artéria. “Com menos comércio, a rua fica mais pobre. À minha frente [loja de mobiliário] estão quatro lojas fechadas e isso prejudica bastante as que se mantêm abertas. Quanto mais lojas houver a funcionar, melhor”, diz Preciosa Pedrosa.
Esta loja vai fechar no espaço onde está actualmente, mas vai instalar-se no local do antigo bar Abadia, também na Rua Direita, garante a proprietária, que acredita que quando estiverem concluídas as obras que vão arrancar em vários prédios desta artéria “a zona passará a valer mais e o comércio reanimará, com novos negócios”.
Negócio de 90 anos salvo pelo desemprego
É um dos mais antigos, “senão mesmo o mais antigo”, entre os negócios instalados na Rua Direita, onde tem portas abertas desde 1928. Falamos da Chapelaria Sapataria Liz, que nos últimos 40 anos esteve sob a gerência de Manuel Moreira, que recentemente chegou a pensar fechar o espaço.
Entretanto, uma das filhas, professora que “não tem tido colocação perto de Leiria”, deverá assumir as rédeas do negócio, evitando o seu encerramento, explicou o comerciante ao JORNAL DE LEIRIA.
Chapéus feitos à medida e calçado artesanal continuam a ser o grosso da oferta da casa, mas o negócio já não é o que era. “Vende-se, mas de 1990 para cá as vendas caíram muito. Fomos conseguindo fidelizar alguns clientes, mas nunca mais se vendeu o mesmo volume de antigamente”.
Para continuar a vender, explica Manuel Moreira, é preciso ir ao encontro dos desejos dos clientes, o que faz com que a loja de Leiria seja ainda procurada por “pessoas de Lisboa, de Caldas e de outros locais”.