“Qualidade e quantidade” continuam a dimensionar o “espírito aberto” do Folio, acredita José Pinho, co-organizador do festival com dois prémios Nobel da Literatura que hoje inaugura em Óbidos, onde as letras e outras artes vão dedicar dias consecutivos ao debate da palavra “poder”, que, avisa o administrador da livraria Ler Devagar, é “muita coisa” e “muito mais do que o poder”.
Do “poder da literatura” e da “educação” a “questões filosóficas que têm a ver com a política”, em Óbidos vai respirar-se o ar do tempo, e do mundo, num momento em que, “pelas melhores e pelas piores razões”, o poder se manifesta diariamente no espaço mediático e na vida das pessoas, nota José Pinho, que lembra “o poder de invadir” e “o poder de resistir”.
“As pessoas instruídas têm outro poder”, refere ao JORNAL DE LEIRIA, “não só do ponto de vista individual, mas, também, colectivo”, ganham sensibilidade e capacidade de ultrapassar obstáculos, o que possibilita “um exercício de poder, mesmo que não seja político”.
Satisfeito com o programa “muito completo em todas as áreas das artes e das literaturas”, José Pinho avisa que o festival, para continuar a crescer, precisa de atrair público, porque “é a presença maciça de pessoas que faz com que tudo valha a pena”.
Depois da cerimónia de inauguração oficial, esta quinta- feira, 6 de Outubro, pelas 16:15 horas, o primeiro evento do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos é a inauguração da Casa Abysmo, que inclui a apresentação da programação do espaço livreiro e a abertura da exposição Uma Espécie de Livro, de Mantraste.
Este ano dedicado ao tema “Poder”, o Folio reúne em Óbidos dois prémios Nobel da Literatura: Olga Tokarczuk no dia 8, numa conversa sobre “Limites” com Carlos Vaz Marques, e Wole Soyinka, no dia 15, para falar acerca da “Infância” com José Mário Silva.
Também hoje, inauguram as exposições José Saramago, Fotógrafo Ocasional, com curadoria de Rui Jacinto e Duarte Belo, e Flexágono 2022, com curadoria de Pedro Moura, sob o mote “Banda desenhada portuguesa, agora”.
24 espaços, 62 apresentações
A informação oficial indica que em 2022 o festival acontece ao longo de 11 dias em 24 espaços da vila medieval de Óbidos e conta com a participação de cerca de 300 autores. Todas as actividades, com a excepção de uma oficina, são gratuitas, incluindo os concertos na Cerca do Castelo e o curso orientado pelo escritor Gonçalo M. Tavares.
Nos primeiros dias do Folio, até ao próximo domingo, a vila literária, com estatuto Unesco na Rede das Cidades Criativas, oferece a oportunidade de acompanhar conversas de Daniel Blaufuks com Ana Sousa Dias (sobre o tema “Dor”), Paulo Mason com Mariana Mortágua (“Moeda”), Hérnan Diaz com Manuel Vilas (“Ficção”), Eduardo Halfon com Sandro William Junqueira (“Identidade”), Olga Tokarczuk com Carlos Vaz Marques (“Limites”), Natasha Brown com Katie Kitamura (“Mulher”) e Mia Couto com José Manuel Gameiro (“Distância”).
Até ao encerramento, a 16 de Outubro, além de 14 mesas de autores e 62 apresentações e lançamentos de livros, o programa do festival reúne 16 exposições, 16 oficinas e 36 concertos, com artistas como Sara Correia, NBC, Expresso Transatlântico, Seiva, Marta Hugon, João Cabrita, SAL, Cassete Pirata e José Barros.
No primeiro fim-de-semana, inaugura, a 8 de Outubro, a exposição Pim! e é entregue o PNI – Prémio Nacional de Ilustração, e começa o seminário internacional O Poder da Educação, que termina no dia seguinte, domingo.
Os metadados contam a nossa história?
Entre as novidades do festival, em 2022, destaque para o arranque de dois subcapítulos integrados no Folio Educa: o Folio Inclusão (que se foca, por exemplo, na língua gestual e na edição multiformatos) e o Folio Tec (que pretende ligar a tecnologia e a literatura e tem actividades nos dias 11 e 12, ou seja, na próxima terça e quartafeira).
No Folio Tec, descobrem-se pontos de partida para o diálogo que vão das novas formas de criação (algoritmos e formas literárias) à relação entre a inteligência artificial e a poesia, mas, também, dos princípios de contar histórias para novos meios como os videojogos às biografias não autorizadas dos metadados e narrativas que podem ser construídas através da nossa pegada digital.
Segundo Miguel Silvestre, director executivo do Óbidos Parque, citado numa nota de divulgação oficial, no Folio Tec pretende-se aprofundar o debate “sobre os processos de criação contemporânea e sobre como as ferramentas digitais os transformam”, e, por outro lado, “debater como a palavra e o texto são parte integrante dos novos media, que complementam o papel histórico e irrepetível do livro”.
Distribuído por áreas temáticas – Folio Autores (curadoria de Pedro Sousa), Folio Mais (curadoria de José Pinho, da Ler Devagar), Folio Educa (curadoria de Paulo Santos), Folio Ilustra (curadoria de Mafalda Milhões), Folia (da responsabilidade da Fundação Inatel), Folio BD (curadoria de Pedro Moura) e Folio Boémia –, nas entrelinhas do festival encontram-se ainda tertúlias, workshops, masterclasses e sessões de cinema, entre muitas outras iniciativas.
Realizado pela primeira vez em 2015, este ano o Folio tem um orçamento de 385 mil euros, assegurado pelo Município de Óbidos e por parceiros que têm a cargo a organização de alguns dos eventos que integram a programação.