Francisco Gomes e Laura Viola são os casos mais recentes e sucedem a Ana Daria Nicoara, António Casalinho, Giulio Diligente, Margarida Abreu e Margarita Fernandes.
Sete bailarinos e bailarinas do Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez, entre os 16 e os 19 anos, que em 2021 assinaram os primeiros contratos com companhias profissionais fora de Portugal.
O reconhecimento do mérito individual e da excelência da escola localizada em Leiria, de onde, em 2019 e 2020, já tinham saído para o estrangeiro João Gomes e Matilde Rodrigues, é, para Annarella Sanchez, um motivo de orgulho, mas, também, de angústia, por não conseguir fixar, pelo menos durante mais “um, dois ou três anos”, os nomes que ajudariam “a levantar a Companhia de Ballet de Leiria”, que existe desde 2018.
“Gostaria que estes talentos tivessem aqui as mesmas condições que têm nos países para onde vão”, explica a professora natural de Cuba, para quem “Leiria já é uma capital na dança” e “tem todas as condições” para manter uma estrutura profissional cada vez mais importante, se aparecerem apoios, nomeadamente, financeiros, que permitam suportar o crescimento da actividade.
Francisco Gomes e Laura Viola seguem em Janeiro para o Queensland Ballet, em Brisbane.
O bailarino – que é irmão de João Gomes, actualmente na República Checa – recebeu várias propostas depois de brilhar no Prix de Lausanne.
“Acabei por aceitar esta, apesar de ser muito longe. Se não a aceitasse, sinto que me ia arrepender, porque, de facto, o nível da companhia é muito bom”, diz ao JORNAL DE LEIRIA.
Annarella Sanchez confirma: “É considerada uma das melhores do mundo”.
Na Austrália, Francisco Gomes espera tornar-se uma inspiração para outros adolescentes, mesmo que a carreira implique abandonar Portugal. “A partir do momento em que nos mentalizamos que queremos ser bailarinos, temos de ter a noção que para isso ser realizado temos de sair do nosso país. Não significa que não poderia ser bailarino aqui, não teria era as mesmas condições que vou ter, em todos os sentidos”.
Também Laura Viola está à beira do momento que imagina desde os oito anos de idade. “É muito gratificante concretizar o sonho e finalmente concluir este primeiro passo do grande objectivo para o qual estou a trabalhar desde que decidi ser bailarina”. Vai iniciar-se no Jette Parker Young Artist Program do Queensland Ballet.
Em Munique, na Alemanha, no Bayerisches Staatsballett, encontra-se António Casalinho, até recentemente a estrela mais cintilante da constelação Annarella Sanchez. A experiência, considera-a “muito entusiasmante”. E a corresponder ao que esperava. “Sinto que a aprendizagem que tivemos no Conservatório [em Leiria] foi sem dúvida muito boa em todos os aspectos, não só ao nível técnico, mas também ao nível mental”.
A principal diferença são mesmo os “muitos recursos que facilitam a vida do bailarino”.
É igualmente no Bayerisches Staatsballett que está Margarita Fernandes, de apenas 16 anos, filha de Annarella Sanchez. Tal como Casalinho, é solista, um patamar acima do corpo de baile e abaixo dos primeiros solistas e do principal.
“Começar como solista é muito raro. A pessoa mais nova aqui, sem ser o António, tem 20 anos”, realça.
As primeira semanas, com seis dias de trabalho e jornadas que chegam às 10 horas diárias, proporcionaram “muitas oportunidades”. E revelaram um ambiente mais individualista do que em Portugal. “O que nós tínhamos não se encontra em nenhum outro lado”.
Margarida Abreu (Europaballett, na Áustria), Giulio Diligente (Finnish National Ballet, na Finlândia) e Ana Daria Nicoara (Teatrul de Ballet Sibiu, na Roménia) também deixaram o Conservatório Annarella Sanchez em 2021 para assinarem contratos profissionais no exterior.
Em anos anteriores, João Gomes (Teatrul de Ballet Sibiu) e Matilde Rodrigues (Birmingham Royal Ballet, em Inglaterra) já o tinham feito.
A característica que todos partilham, segundo Annarella Sanchez, “é a disciplina”. E o êxito de uns é o exemplo para outros.
“Temos muitos japoneses e italianos a querer vir porque estão a ver que nós oferecemos entrada no mercado de trabalho”, adianta. “Com a nossa formação, eles com 18 anos ficam prontos para serem bailarinos profissionais”.
Actualmente, frequentam o Conservatório Annarella Sanchez, em Leiria, cerca de uma centena de alunos e alunas, dos quais 60% são estrangeiros, do Japão, Itália, França, Espanha, Roménia, Bélgica, Eslovénia, Brasil, Uruguai, Panamá, Inglaterra e México.