Uma mensagem de áudio enviada pela ex-deputada Joacine Katar Moreira ajudou a identificar o caminho. “De repente, toda a gente ficou em silêncio para escutar aquela voz”, conta Tiago Cadete. “E daí nasce essa ideia de pensar um objecto (…) que privilegia o lugar da escuta e dessa atenção perante o outro, que também somos nós, no nal das contas”.
Concerto, que estreia hoje, 5 de Maio, no Cine-Teatro João d’Oliva Monteiro, é uma performance-instalação suportada por colunas de som e desenho de luz em que o texto se baseia nos testemunhos de 20 migrantes da América Latina que vivem em Portugal (Leiria, Alcobaça e Pombal) e Espanha (Granollers).
Na nova criação de Tiago Cadete, há um “jogo de espelho”. O artista transdisciplinar e autor de Concerto residiu 10 anos no Brasil. “Porque é que eu escolho? E agora tentar perceber porque é que outras pessoas escolhem o lugar que eu deixei”. E há, também, aquilo a que chama “inversão no edifício teatral”: os espectadores sentam-se no palco e as palavras chegam da plateia. “Quando nós dizemos concerto, também pode ser um conserto de consertar alguma coisa. Então, nós almejamos que o trabalho, de alguma forma, tente consertar esta ligação, muito binária, entre nós e os outros”.
O espectáculo coloca em destaque um ensemble sem corpos, quase fantasmagórico, e uma partitura que retira os migrantes da sombra e os faz visíveis através da voz, que passa a ser escutada.
Entre eles, Jonnathan Zapata, da Colômbia. Colaborou nas residências artísticas – “uma experiência incrível” – e enquanto mediador seleccionou outros participantes, todos estrangeiros. Há um ano em Portugal, já trabalhou na construção civil e espera juntar-se em breve à Casa Varela (em Pombal) para mostrar a sua própria arte, que se inspira nas técnicas de decoração em mosaico.
Outra das histórias recolhidas por Tiago Cadete é a de Damariz Ushiña, do Equador, que se diz “muito grata” pela oportunidade. Mora em Leiria, onde está a terminar o mestrado em Engenharia da Energia e do Ambiente, no Politécnico. E já tem uma oferta de trabalho para continuar na Europa.
Concerto une os municípios de Pombal, Alcobaça e Granollers (em Espanha) e surge ao abrigo da iniciativa Stronger Peripheries: a Southern Coalition, lançada em Portugal pela Artemrede, que atribuiu 40 mil euros ao projecto, após concurso e avaliação por júri.
Decorreram quatro residências artísticas, em Portugal (incluindo, na Casa Varela) e também na Catalunha, onde a equipa encontrou casos de maior violência contra migrantes.
A performance-instalação é estreada em Alcobaça (com sessões a 5 e 6 de Maio às 21:30 horas e 7 de Maio às 11 horas) e é apresentada a 12 e 13 de Maio em Granollers.
Procura responder a duas perguntas: quem são os novos migrantes? E que desejos têm quando migram para o país que os colonizou?