Texto publicado originalmente na edição em papel do JORNAL DE LEIRIA de 22 de Julho de 2022
O norte-americano Jim Self, a “voz” da nave-mãe no filme Encontros Imediatos do Terceiro Grau, de Steven Spielberg, quando através da música se dá a comunicação entre extraterrestres e humanos, é talvez o mais sonante entre vários nomes estrangeiros na próxima edição do Gravíssimo! em Alcobaça. Gravou discos e programas de televisão e colaborou com os maiores estúdios de Hollywood em mais de mil e quinhentas produções, com solos de tuba nos títulos recordistas de bilheteira Parque Jurássico, Sozinho em Casa, Avatar ou, mais recentemente, Star Wars – O Despertar da Força. Gravou também com artistas como Placido Domingo, Frank Sinatra e Barbra Streisand.
Além de Jim Self, o festival de metais graves anuncia John Kenny, R. Winston Morris, Oren Marshall, David Taylor, Daniel Perantoni, Demondrae Thurman, Floyd O. Cooley e os portugueses Gabriel Antão, Ricardo Antão, Mauro Martins e Ricardo Carvalhoso, numa lista em que estão representados o trombone, o trombone tenor, o trombone baixo, a tuba e o eufónio.
Oren Marshall também tem experiência no cinema, nas bandas sonoras de O Panda do Kung Fu, O Hobbit e Missão: Impossível – Fallout, entre outros filmes, além de ter trabalhado com os Radiohead e com Bobby McFerrin. Mas são vários os artistas que a décima segunda edição do Gravíssimo! traz a Portugal entre 25 e 30 de Julho que se ligam às melhores orquestras, escolas e salas de espectáculos no mundo e aos prémios mais importantes.
R. Winston Morris, por exemplo, é considerado a principal figura na literatura para a tuba; John Kenny tem trabalhado em arqueologia musical e em 1993 tornou-se a primeira pessoa, durante dois mil anos, a tocar a trompa de guerra celta conhecida como carnyx; já David Taylor gravou com Duke Ellington, Rolling Stones, Miles Davis, Quincy Jones e Aretha Franklin.
Por motivos de saúde, o trombonista Ray Anderson, que faria o concerto de encerramento, está fora do festival, adiantou Sérgio Carolino, que partilha a direcção artística do Gravíssimo! com Hugo Assunção. A organização está a tentar uma solução de última hora para o substituir.
Este ano, os concertos no Mosteiro de Alcobaça e no Museu do Vinho, e as conferências, masterclasses e apresentações por marcas de instrumentos, decorrem em simultâneo com o Cistermúsica, também produzido pela Banda de Alcobaça.
“Modéstia à parte, não há nada a nível mundial que chegue sequer próximo do que temos para oferecer”, acredita Sérgio Carolino. Evento de nicho, o Gravíssimo! “cresceu imenso” e “tornou-se único e muito especial”, diz o músico natural de Alcobaça. “Tentamos ter os maiores” e “todos eles são personagens de renome internacional”. É o caso de Jim Self – “se calhar o tubista mais ouvido da história da tuba, em quase todos os filmes de Hollywood, a voz da tuba é dele” – ou David Taylor, “um filósofo artista” e “o principal responsável pelo desenvolvimento do trombone baixo”.
Grandes músicos, mas ainda melhores seres humanos, comenta Sérgio Carolino. “Uma das características do festival é o humanismo das pessoas que trazemos, a mensagem em termos de filosofia de vida”. Uma combinação que eleva o Gravíssimo! para um patamar “inspirador”.
Como instrumentistas de suporte, no piano, vão participar o português Bernardo Pinhal e a russa Maria Derevyagina.
A colaboração ao vivo entre músicos de diferentes origens é outro aspecto do festival que perdura no tempo. Há dias, chegou às plataformas digitais a gravação do concerto de 2021 que juntou a banda R’B & Mr. SC com o trombonista holandês Bart van Lier.