Inveja da cumplicidade e partilha, que ao longe e discretamente observava. A cumplicidade entre marido-mulher, pais-filhos, avós-netos, irmãos-irmãs, comprovada nas gargalhadas, nas crianças a brincar em redor e nas horas de histórias e peripécias contadas a olhar o mar.
Hoje estou na praia com a minha família. Fazemos castelos encantados de príncipes e princesas, damos mergulhos, contamos histórias e fazemos leituras. E numa das minhas leituras de Verão, um artigo muito interessante sobre o apego e a vinculação. Com este cenário de fundo e, em jeito de associação livre, registei algumas notas para partilhar.
Todos nós precisamos de ter vivido um amor incondicional, de encantamento e deslumbramento por nós, que nada pediu em troca, nem exigiu retribuição. Por isso, a vinculação (o apego do filho aos pais) não resulta de um conjunto de “truques” que se possam ensinar.
É fruto da relação dos pais ao serviço da regulação e exploração da emoção do seu bebé, que se traduz depois na confiança profunda e permanente que o bebé tem na disponibilidade e capacidade de resposta do seu cuidador e, quando desajustes ocorrem, na sua capacidade em repará-los.
Para tudo isto resultar numa vinculação segura, por isso forte, constante e de qualidade, é a disponibilidade, sensibilidade, sintonia e orientação do cuidador às necessidades e emoções das suas crias que conta. E conta muito, porque este vínculo precoce afecta a qualidade dos relacionamentos afectivos vida fora.
Quem cresce em famílias quentes, seguras e de muito colo, como aquelas que ainda hoje gosto de observar na praia, cresce mais em autonomia, em segurança, em independência e mais propenso está a relações íntimas seguras e saborosas.
[LER_MAIS] Este é talvez o maior paradoxo da espécie humana, que tantas vezes aparece na clínica carregado de sofrimento, abandono, repetição e insegurança. Isto porque o relacionamento íntimo com alguém ao longo da vida responde a esta necessidade que afinal todos temos: a de segurança, partilha de ideias e emoções e comunhão de interesses e projectos. É humano. Faz parte do nosso percurso existencial, porque somos animais eminentemente sociais.
E por fim, a boa notícia. O estilo de vinculação da primeira infância não é um destino, ao qual nenhum de nós poderá fugir. Depende acima de tudo de quem vem depois e de quem vier por bem. Tudo é reparável.
Mas para isso acontecer, o que precisamos são de novos interlocutores envolvidos, atentos, lúcidos e mais capazes. Um professor, um amigo, um companheiro, um terapeuta, sensível e responsivo, capaz de se abraçar connosco numa nova relação. Porque a mudança é sempre possível!
*Psicóloga clínica e psicoterapeuta