O corpo, o desejo, o prazer, a afirmação do feminino. Mas, também, o ciclo eterno de vida e de morte, na Natureza. Carla de Sousa em duas mostras colectivas, Avintes e Covilhã, em que assume, pela primeira vez, o formato instalação vídeo para apresentar fotografias e imagens em movimento.
Exposições que sucedem à participação, em 2021, no projecto Mapas do Confinamento (com Rui Zink, Maria Teresa Horta e Afonso Cruz, entre mais de uma centena de autores) e no foto-livro O Meu Amor Não Cabe Num Poema, com outras quatro fotógrafas, a celebrar o Dia Internacional da Mulher.
No festival Diafragma, que inaugurou sexta-feira, 14 de Maio, na Covilhã, Carla de Sousa explora “a narrativa entre o ser humano e o mundo que o rodeia”, a partir do tema comum: há só uma terra. São 18 imagens, sob o título O Todo Não é a Soma das Partes, numa instalação vídeo que aborda os “ciclos de eterno retorno, da morte e do renascer”, a que, na opinião da autora, estamos “intimamente ligados” e que “nos afectam”.
Em Avintes, outro festival, o iNstantes, a decorrer até 30 de Maio, com cerca de 50 fotógrafas de nove países, serve a Carla de Sousa para mostrar a instalação vídeo O Breviário do Decoro, que, segundo a própria, “pretende ser uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade actual” e acerca dos limites “que lhe são impostos”, sobretudo, os relacionados com a expressão através do corpo e que emanam de “uma certa visão sobre o que é a decência” ainda “extremamente patriarcal e machista”.
Nos dois minutos de O Breviário do Decoro, sonorizados com o tema Slowly Becoming, de André Barros, há lábios, pele, seios, luz, sombra, é apresentada – num espaço de visionamento escuro e exíguo, a reproduzir a intimidade – “uma outra matriz de decência”, criada pela fotógrafa de Leiria, destinada a que “a mulher seja vista como um todo”.
No domínio do corpo
A mulher a expressar-se em todos os domínios, incluindo o corpo. A usufruir do prazer e do desejo. Na linha do que a exposição Cartografia Para Um Beijo mostrou em 2019, no edifício do antigo Banco de Portugal, em Leiria, agora conhecido como BAG – Banco das Artes Galeria.
Carla de Sousa, de 47 anos, que mantém um emprego a tempo inteiro fora do universo das artes, esclarece que faz através da fotografia “uma afirmação do feminino” e que o faz por necessidade, em função de um “trabalho de auto-conhecimento e de percurso de vida”.
“Com os meus 18-20 anos nunca teria esta postura, esta percepção”, explica. “A minha visão do feminino hoje é a minha construção pessoal”. Mas, por outro lado, revele muito ou pouco, na óptica do juízo da maioria, “não caracteriza a minha idoneidade nem a minha respeitabilidade”, acrescenta. A arte funciona como “um meio de expressão” para reencontrar o equilíbrio e a beleza.
No site carladesousa.com, inaugurado também em 2021, a primeira imagem tem citação de Anaïs Nin: “Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos”. A próxima revelação do olhar de Carla de Sousa, depois de Avintes e da Covilhã, tem lugar marcado numa exposição em Leiria, lá para Agosto, no contexto do projecto colectivo Fotografar Palavras.