Com o preço do gás natural 15 vezes mais caro do que em Dezembro do ano passado, a indústria da cerâmica vê com preocupação o anúncio de um eventual corte de 15% no consumo de gás natural.
Esta é uma fileira, com bastante expressão na região, e cuja produção assenta essencialmente, no uso de fornos onde este elemento é queimado para atingir a temperatura de cozimento das pastas cerâmicas.
“Estou apreensivo. Além do aumento exponencial do preço do gás, já desde antes da guerra na Ucrânia, se houver uma redu- ção de 15% no consumo, teremos de baixar a quantidade de peças produzidas, mas espero que tal não aconteça”, diz Jorge Louro, responsável pela Deartis, empresa sediada em Porto de Mós que, desde 1988, se dedica à produção de artigos de mesa, forno, utilitários, decorativos e acessórios de casa de banho em grês fino e faiança.
Embora o Governo assegure que Portugal não está tão exposto ao mercado de hidrocarbonetos – gás natural e petróleo – como boa parte dos países da União Europeia (UE), uma vez que optou por fornecer-se na Nigéria, EUA e Norte de África, a verdade é que com os russos a fechar o fornecimento de [LER_MAIS]combustíveis nos oleodutos e gasodutos, como represália contra as sanções impostas pela guerra na Ucrânia, o nosso País e as empresas sentem a concorrência de quem vê o Inverno a aproximar-se.
Recorde-se que a UE sugeriu que todos os Estados-membros reduzissem o seu consumo em 15% para poupar 45 mil milhões de metros cúbicos de gás natural e embora Portugal e Espanha tenham votado contra num primeiro momento, sem água nas barragens para produzir electricidade, na terça-feira, com a proposta de excepções para acomodar a necessidade de produção de energia em centrais termo-eléctricas, a medida foi aceite.
Apesar disso, ontem, os preços do gás subiram 20% arrastando os da electricidade.
Para José Luís Sequeira, presidente da APICER – Associação Portuguesa da Indústria de Cerâmica e Cristalaria, trata-se de “uma perturbação e preocupação que não são sanáveis facilmente”.
O responsável admite que não é possível encaixar o corte na labora- ção normal, e que tal implica paragens na laboração 24 sobre 24 horas.
Mesmo sem a questão dos 15%, José Luís Sequeira diz que, ao preço a que o gás natural está, “é impossível manter a laboração em condições normais”.
A solução no sector “não é fácil” e, quando tal é possível, têm-se ensaiado negociações que implicam a redução nas margens de lucro para acomodar o aumento dos preços e, ainda, a tradução no valor do produto final dos custos de produção.
Perante o, aparentemente, inevitável corte de 15% no consumo e com preços mais ou menos caros, a conclusão de quem opera no sector da cerâmica é apenas uma: “sem gás, não se produz!”.
Fim da guerra não resolve problema
É possível uma retracção no consumo, devido à inflação e isso levará ao cancelamento de encomendas, redução nas quantidades solicitadas e alargamento nos prazos de entrega”, diz Jorge Louro, responsável pela Deartis que adianta estar convencido de que o fim da guerra não resolveria a situação.
“Não estou a ver a Europa a voltar a comprar à Rússia como antes.”