Foi anunciado como um projecto “inovador”, para ajudar a combater a “sazonalidade balnear” da Nazaré, mas já suscita polémica. Em causa, está a criação de uma zipline (ou tirolesa), com a instalação de um cabo aéreo que permitirá fazer a ligação entre o promontório do Sítio e a zona Sul da Marginal, atravessando a praia.
A abertura do concurso para a concessão de uma área pública para a implementação do projecto foi aprovada, na semana passada, pela Assembleia Municipal, com os votos contra das bancadas da oposição (PSD, CDU e BE), que alertaram para os impactos que a zipline terá, quer no promontório quer praia.
Durante a sessão, intervieram também representantes do Movimento Cívico pela Defesa do Promontório da Nazaré, que integra várias associações locais e que está a promover uma petição que contesta o projecto.
“A instalação da tirolesa irá interferir destrutivamente no património geológico e na paisagem do promontório e da praia, imagem icónica da Nazaré. Igualmente põe em causa o ecossistema da fauna e flora existente no local”, defende a petição, que, até ontem ao meio-dia, já tinha sido subscrita por 560 pessoas.
Segundo Nelson Quico, que integra aquele movimento, o principal motivo da contestação prendese com os “impactos na paisagem” do projecto, “durante, pelo menos 20 anos”, que é o período da concessão previsto no concurso.
Frisa ainda que o promontório “é uma estrutura geológica sensível” e lamenta que o processo tenha avançado sem haver ainda pareceres de entidades como a Agência Portuguesa do Ambiente, Capitania da Nazaré ou Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo.
Esta questão, também levantada por várias forças políticas, tem sido rebatida pela maioria socialista, com a imposição no concurso da obrigatoriedade de os promotores apresentarem os pareceres necessários.
[LER_MAIS] A proposta apresentada pelo executivo, liderado pelo socialista Walter Chicharro, para a abertura do concurso público para a concessão da utilização privativa de área do domínio público municipal para o projecto Zipline Nazaré, alega que se pretende criar “uma actividade emergente que contribua para o desenvolvimento local e que contrarie a sazonalidade balnear”.
Trata-se, no entender do executivo, de um “projecto estratégico” para a Nazaré, porque permitirá “criar mais oferta de actividade turística”, “durante todo o ano, potenciado mais crescimento” de “todos os agentes” económicos. Além disso, irá “gerar receitas adicionais [para o Município] de modo a promover a redução da dívida e a fomentar o investimento municipal”.
Os argumentos não convenceram as bancadas da oposição. O PSD, que tem o maior número de eleitos entre a oposição, frisou os impactos do projecto na paisagem. “Sem saber qual o trajecto e onde vai parar a tirolesa e antevendo o 'rasgo' que provocará na paisagem e a incomodidade que irá trazer aos banhistas, não podemos votar favoravelmente”, alega a social-democrata Fátima Duarte, defendendo que a Nazaré tem outros pontos turísticos que podem “ser valorizados”, no sentido de reduzir “ainda mais” a sazonalidade.
Apesar da contestação da oposição, a abertura do concurso público foi aprovada pela maioria socialista. Na sequência da votação, o Movimento Cívico pela Defesa do Promontório prometeu “continuar a lutar até que a Câmara encerre ou enterre de vez este projecto”.