Numa antiga escola primária na zona de Santa Eufémia, as salas coloridas permitem dar asas à imaginação. A terra é um dos cenários privilegiados. As crianças podem criar sem limites, utilizando tampas, cartões, papel, tecidos, “materiais de fim aberto”, que se transformam em objectos de brincadeira. Jogos lúdicos e leitura de contas também integram as actividades, que estão muito relacionadas com a parte de psicomotricidade e artes.
“A partir de uma história dá para trabalhar imensas coisas. Fazemos as saídas ao exterior, pelo que há muita exploração do espaço e a nível sensorial”, assume Salomé Bento que, a par com a sua irmã Filipa Bento, é uma das mentoras desta comunidade de aprendizagem.
Crescer C’Alma é uma comunidade de aprendizagem onde a criança é a protagonista, com regras e limites, mas as aprendizagens surgem com o conhecimento sensorial e com as experiências que obtêm a brincar. Assume-se como uma alternativa ao tradicional pré-escolar e jardim-de-infância, inspirado em modelos educativos como Reggio Emilia, Montessori, Forest School e as ideias defendidas pelo professor Carlos Neto da importância do brincar ao ar livre.
“Não nos queremos afastar por completo da escola tradicional, mas dar oportunidades e experiências um bocadinho diferentes. Sendo um grupo mais reduzido permite um trabalho mais individual e focado nas necessidades, interesses e fase de desenvolvimento de cada criança. Há muito espaço para brincar, porque o brincar não é só brincar, é crescer e aprender. As aprendizagens surgem naturalmente”, reforça Salomé Bento.
Brincar ao ar livre
Destinado a crianças dos 3 aos 6 anos, o projecto, que nasceu há cerca de dois anos, aposta no brincar livre, na conexão com a natureza e com os animais. As galochas são elementos fundamentais na indumentária dos pequenos aventureiros, que têm de estar preparados para brincar na lama, por exemplo.
“A escolha do nome C’Alma foi premeditada, porque na infância é essencial a calma e a alma”, acrescenta, ao apontar que a filosofia assenta na “educação emocional, na liberdade, mas com regras, experiências, colo e mimo”. “A sociedade faz tudo ao contrário. As crianças são formatadas para serem todas iguais e depois exigem-se adultos criativos, resilientes e capazes”, diz.
Ambas defendem que não adianta “ensinar a ler, a escrever e os números sem a base, que é a parte relacional, o saber-estar, o saber ser, o estar conectada com ela e com o mundo”. Por isso, “muitos adultos chegam à fase adulta e estão completamente desconectados e infelizes”. E a felicidade era evidente no rosto das cinco crianças que estavam no espaço quando o JORNAL DE LEIRIA chegou.
Escavar na terra, fazer ‘refeições’ e correr livremente antes de um passeio ao exterior, onde a descoberta do mundo numa caminhada é lei e enche o rosto dos pequenotes de largos sorrisos. Salomé Bento aponta o contacto com a a aldeia onde estão inseridos como mais-valias, assim como a oportunidade de poderem “tocar e sentir as coisas de forma natural e não só através de imagens que vêm nos livros”.
O Crescer C’Alma tem outras respostas até para garantir a sua sustentabilidade financeira. Estão abertos a receber crianças nas férias escolares, serviço de aniversários, babysitting e playdates.