Conseguimos escutar o silêncio? A pergunta de Pedro André instala-se no projecto Crossfade Memory e no tema com 29 minutos e 48 segundos alojado na internet através da editora Parva Musica, do Porto, onde o artista, natural de Leiria e com raízes em Monte Real, há vários anos se encontra a viver e a trabalhar.
O título da obra – “e o silêncio tem som?” – já insinua a resposta: mesmo num espaço com grande isolamento acústico, existirá sempre algo para ouvir. “Nem que seja do nosso próprio coração”.
Crossfade Memory é, segundo o autor, um exercício de arqueologia acústica, em que Pedro André manipula sintetizadores e programas de edição para criar paisagens sonoras a partir de captações digitais e analógicas.
O próximo concerto acontece no sábado, 15 de Julho, pelas 19 horas, no Museu de Leiria, no contexto do III Ciclo de Música Exploratória Portuguesa, organizado pela associação de acção cultural Fade In.
Ao vivo, está em perspectiva “uma nova versão” do primeiro lançamento através da Parva Musica, anuncia Pedro André ao JORNAL DE LEIRIA. Ou seja, “uma nova peça”, que se baseia nos mês mos princípios. Por um lado, a ideia de que “hoje em dia, a electricidade é o som que está em tudo”, e, por outro, a exploração de “fragmentos de memória” contidos em sensações auditivas. Por exemplo, de registos obtidos em Marrocos, recentemente.
No Museu de Leiria, a atmosfera deverá ser “contemplativa, mas, também, imersiva”. E funcionar como plataforma para que o público possa viajar à boleia do que ouve naquele lugar e naquele instante.
“Vou à procura da origem dos sons”, assinala o artista, de 40 anos, que alimenta o projecto Crossfade Memory desde 2019. “É isso que me interessa: explorar memórias na electricidade”.
Nos últimos anos, Pedro André tem trabalhado como produtor cultural, músico e artista visual. Viveu em Berlim, onde foi co-fundador e membro do colectivo artístico Piso e do espaço de artes e música experimental Altes Finanzamt. Também colaborou na fundação e na actividade das editoras independentes de música electrónica Marvellous Tone e Faca Monstro, entre 2008 e 2018. Participou nas iniciativas What e Çuta Kebab & Party. Como produtor, associou-se a Jonathan Saldanha, Pedro Augusto, Ignaz Schick, Gil Delindro e Nils Meisel.
Bandas sonoras e instalações são outra componente do percurso de Pedro André, que já trabalhou com Mariana Silva e Pedro Neves Marques no canal online Inhabitants, com Mariana Caló e Francisco Queimadela nas obras Meia-Noite, Animal Vegetal Mineral e Radial Body e na curta-metragem Sombra Luminosa, além de ter colaborado com o curador Nuno Faria e com o artista Lorenzo Sandoval.
“Oitenta por cento do que faço tem uma relação com vídeo e cinema”, explica ao JORNAL DE LEIRIA.
Desde 2020, Pedro André assume as funções de compositor residente no Museu da Cidade do Porto, onde cria para diferentes formatos e suportes, desde a sonoplastia de exposições – “tenho agora uma sobre o Parque da Cidade, que vai estar patente durante seis meses” – até jingles para os podcasts da instituição.
Depois de deixar Leiria para estudar pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Pedro André começou a expressar-se através da música enquanto DJ e, já em Berlim, na Alemanha, aprofundou o interesse pelas artes sonoras, que continua a desenvolver.
No fim do dia, procura operar no terreno híbrido entre as artes visuais e a música. “Há sempre uma componente visual em tudo o que faço a nível sonoro”, conclui.