À entrada do pavilhão, já se ouvem os remates à baliza, as bolas a bater na parede e os gritos de alegria ou tristeza consoante a pontaria. As crianças aproveitam os momentos antes do arranque do treino para aperfeiçoar o remate e, claro, para brincar.
A princípio, não se percebe qual é o escalão que está a treinar, pelas crianças de várias idades em campo. Porque no Centro Recreativo Popular (CRP) da Ribafria, não é assim que funciona. Os atletas não são reunidos consoante o escalão, mas sim pelo nível de competência e habilidade.
É um método adoptado há cerca de 15 anos, que envolve todos os 14 treinadores deste clube com um plano delineado, e que também está na origem do prémio de Excelência na Formação de Futsal, atribuído, pela terceira vez consecutiva, pela Associação de Futebol de Leiria.
Na mesma área, também o treinador deste clube, Samuel Ribeiro, recebeu a distinção.
Cada equipa técnica analisa as competências dos jogadores a cargo e, consoante a sua destreza e habilidade, encaminha para o grupo mais adequado. Os jogos oficiais não deixam de ser divididos por escalões e, no momento de juntar os atletas, tudo corre bem.
Prova disso são os pódios conquistados época após época, tanto nas competições distritais como pelas nacionais. Além da boa exibição da equipa, Samuel Ribeiro ainda recebeu, este ano, um cartão branco.
“Num jogo, acabámos por marcar um golo quando a outra equipa tinha um atleta lesionado. O nosso jogador que rematou à baliza não reparou que o atleta tinha ficado lesionado e marcou golo. Nós, a equipa técnica, demos ordem para deixar a outra equipa marcar golo sem oposição, para restabelecer o resultado”, conta o técnico, que desde os 17 anos treina equipas de formação desta equipa da Benedita, no concelho de Alcobaça.
Esta atitude acaba por reflectir a mensagem que o clube tenta passar a cada atleta. “Dificilmente, num grupo de 15 atletas, algum será jogador profissional da modalidade. Mas, quando acabarem a formação no clube, futuramente todos serão homens e mulheres na sociedade. O principal trabalho do clube é esse”, explica o treinador distinguido, ao frisar o papel do clube na formação e educação destes jovens.
Número de atletas cresce
O número de atletas está em crescimento, com mais de 170 jogadores este ano. Além do futsal, o CRP Ribafria ainda tem patinagem artística, atletismo e ciclismo. No total, o número de atletas ultrapassa os 300.
Como se gere uma ‘casa’ desta dimensão? “É um desafio dos grandes”, confessa Tânia Marquês, presidente deste clube desde o ano passado. Tem ‘alma laranja’ desde pequena – com seis anos já calçava os patins na patinagem artística – e o pai está ligado à fundação do clube.
Existe uma ‘máquina oleada’ ao redor da gestão de clube e, quando alguém não pode, há alguém que dá uma ‘mãozinha’. “Conseguimos reunir um grupo de pessoas cinco estrelas”, refere a dirigente.
Além da direcção, os pais e atletas também ajudam a fazer a festa e envolvem-se na organização dos eventos anuais.
“Enquanto esta ‘alma laranja’ e a carolice continuarem por detrás, penso que isto vai continuar sempre a andar para a frente”, afirma Tânia Marquês.
Agora, todas as atenções estão voltadas para a celebração dos 50 anos de actividade do CRP Ribafria. Além da tradicional missa de 1 de Novembro, que assinala todos os anos o aniversário do clube, seguida de um almoço-convívio, a direcção está também a preparar uma gala no Centro Cultural Gonçalves Sapinho (Benedita), a 16 de Novembro, que pretende homenagear as principais personalidades associadas à evolução do clube.
“O desafio será cada vez maior, porque a sociedade também é cada vez mais desafiante, a todos os níveis. Na minha perspectiva, e tem sido a perspectiva do grupo na direcção, enquanto virmos o pavilhão cheio, enquanto tivermos miúdos a praticar desporto e os conseguirmos associar a eventos fora do treino, penso que [o clube] vai continuar a evoluir e a crescer”, comenta a dirigente.
Neste cinquentenário, ainda há algo que falta ao Ribafria: um novo pavilhão. O ideal seria haver “um pavilhão municipal”, mas a direcção já prepara o projecto do segundo recinto desportivo, capaz de dar resposta aos treinos diários, porque existe “dificuldade na gestão de espaço”. Mesmo a treinar em três lugares distintos, é difícil dar resposta a todos e colocar os jogadores a treinar em campos com medidas oficiais.
O novo pavilhão é um sonho antigo que, para ver a luz do dia, precisa de apoios financeiros da comunidade e instituições locais, e contribuirá para a formação de crianças e jovens.