Verde-Gaio, Pena Verde,
Vem cantar ao meu jardim!
Põe o pé na manjerona,
O bico no alecrim!
Extrato de canção tradicional da Estremadura – “Verde Gaio”
Noite de domingo, o programa visita guiada na RTP2 falava sobre Clemente Meneres, um homem que se apaixonou por Trás-os-Montes e seus sobreiros e aí criou uma intervenção de paisagem da maior importância cultural, paisagística e agrícola, lá para os lados de Romeu.
Em época de pensar a cultura como elemento diferenciador, importa definir as suas singularidades e o que são, enquadrando desde logo o que se entende por cultura.
Do Dicionário da Língua Portuguesa, cultura é desde logo um modo de fazer… é um conjunto de costumes, práticas, comportamentos…., que são adquiridos e transmitidos socialmente de geração em geração….. o culto território, quer dizer o viver com, o construir-se com, o culto no sentido de um gesto… que lavrou, semeou, colheu… e território no sentido do terroir, no que o singulariza – uma territorialidade.
O território é revelador de um modo de ser e fazer, de uma cultura. Desde logo porque a cultura é feita de gestos das suas gentes no seu território.
O território condiciona e é condicionado por suas gentes. Esta relação território e gentes resulta de uma escolha primeira – o lugar. A terra, o solo, o clima e as águas, o povoamento, os centros urbanos, a urbanização, os campos e as fronteiras são a identidade do território.
É no território que plasmamos os nossos gestos e destes gestos a simbiose de todos os elementos – um modo de ser e fazer.
Leiria pertence a uma vasta área territorial fundamentalmente limitada a Norte pelos campos do Mondego a sul e a nascente pelo maciço Estremenho e a poente [LER_MAIS] pelo oceano e o que resta do Pinhal do Rei. O que somos de Norte a Sul somos do que fizemos e como.
A norte o Pinhal e todo um sistema deste dependente quer ao nível de povoamento, como da produção agrícola e industrial.
A Sul território rochoso, de maiores declives propenso a defesa e no caso a afirmação de uma identidade lusa.
As grandes obras, o Mosteiro da Batalha, o Mosteiro de Alcobaça, o Convento de Tomar, o Mosteiro de Cós, a Igreja de Gião e mais ainda todo um território que o homem organizou, socalcou, talhou, moldou e fez dele os seus lugares com suas plataformas, as suas ruas, os seus muros, as suas casas, mano a mano, pedra sobre pedra.
Com o gesto humano, pedra, madeira e terra moldaram um território. Plataformas, muros, apiários, pequenos volumes adossados e justapostos às encostas, cisternas de água no interior esburacado dos maciços calcários desenharam a paisagem, um modo de ser e uma singular cultura. Prepara-se em Leiria candidatura para Cidade Europeia Capital da Cultura.
A proposta, de acordo com a estratégia da EU, deve considerar que “as questões de um capital cultural tocam na criatividade e na penetração do mundo cultural, na sua capacidade de se projectar no futuro e estabelecer relações frutíferas com o mundo cultural- forças fortes do seu território…”.
*Arquitecta