Natal é quando o homem quer, diz um velho ditado popular. Se essa é uma verdade, pois o espírito de solidariedade, compaixão, amizade e a oportunidade para reunir com quem mais se gosta deve estar presente no ano inteiro, também não é menos verdade que numa vida agitada a celebração do nascimento de Jesus para os católicos é assinalada na maioria das casas por todo o mundo.
No entanto, a festa mundial não significa ter tradições iguais e a cultura de cada país tem um peso nesta quadra. No Politécnico de Leiria há vários estudantes internacionais que não vão a casa neste Natal. Mas o dia de reunião está marcado para a noite de 24 com os amigos de quem são mais próximos. Camila Neppas veio do Equador para a Escola Superior de Tecnologia e Gestão, onde estuda Marketing. “Vivo numa cidade um pouco longe dos meus primos e avós, por isso, para mim, o Natal está sempre associado a viajar.”
O dia 24 da família de Camila é passado na cozinha. “Algo comum no Equador é decorar o peru.” Ao longo do dia decorrem jogos de mesa e não falta o karaoke. “À porta das casas são construídos presépios. Costumo ir com os meus primos vê-los.” Católica assumida, a família cumpre a tradição da novena e durante nove dias reza todas as noites.
“É uma tradição muito bonita. Há um anfitrião que recebe os outros. Como a minha família está longe, fazemos isso com os vizinhos. Esse momento inclui sempre convívio, petiscos e música”, revela. “Não somos muito materialistas pelo que não nos preocupamos muito com a troca de presentes. Natal é estar em família. É esse o espírito de Natal”, acrescenta a estudante. No entanto, para as crianças há sempre um saco cheio de doces.
Este ano Camila deverá passar com os colegas de casa e uma amiga que está a fazer o mestrado em Aveiro, num ambiente restrito, pois a pandemia assim o obriga. “O Politécnico de Leiria está a oferecer cabazes para podermos confeccionar a tradicional receita portuguesa na noite de Natal. Irei fazer isso.”
[LER_MAIS]Na China não se celebra o Natal, mas Jéssica Zhaoqi apaixonou-se pela quadra em Leiria. Os enfeites, as luzes e todo o espírito natalício, mesmo em contexto de Covid-19, fazem brilhar os olhos da estudante de Língua Portuguesa Aplicada na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS).
“Este ano vou ter um Natal com os meus dois colegas de quarto. Somos fãs do Natal e vamos decorar a casa. Tanto quanto sei, as famílias reúnemse na noite do dia 24 para a ceia de Natal e também vamos fazer isso. Comer o bacalhau, peru assado e bolo rei, que nunca experimentei”, revela.
Jéssica Zhaoqi admite que a troca de presentes é dos momentos que mais a entusiasma, não pelo bem em si, mas “pela felicidade que se vê”. Consciente das dificuldades que o comércio local está a atravessar, a jovem confessa que quer participar na actividade solidária de apoio ao comércio.
“Apesar de ser uma gota de água no oceano será mais uma ajuda.”
Na China, além da celebração do Ano Chinês, o Festival da Primavera é um dos principais marcos. “Fazemos comida tradicional chinesa, como os dumpling, e reunimos toda a família para brindarmos a chegada da Primavera. A celebração não tem data fixa, rege-se pelo calendário lunar.”
Apesar de ser passado com a família mais restrita, Jéssica conta que o tempo de convívio é passado a jogar às cartas, a ver televisão ou a participar em karaoke.
Natural da República Dominicana, Elvis Gonzalez vai trazer os ritmos dominicanos a Leiria na noite da Consoada, que irá partilhar com um grupo pequeno de amigos.
“O meu Natal costuma ser com toda a minha família. Sou de uma cidade pequena, mas na noite do dia 24 jantamos com a família alargada”, afirma o estudante de mestrado de Comunicação Acessível da ESECS.
A festa começa cedo. Ao longo do dia assa-se o porco e o convívio e animação entre todos é a nota dominante. “À noite o jantar é mais tranquilo, mas reúne sempre entre 35 a 40 pessoas, na casa da minha avó.”
Na República Dominicana os presentes também se trocam e para as crianças há sempre uma pinhata. Este ano o número de pessoas à mesa será bem mais reduzido. Elvis vai ficar em Leiria, em casa de uma conterrânea. “Vamos tentar recriar o Natal dominicano em Leiria, confeccionando os nossos pratos. Haverá música e jogos de mesa.”
A Covid-19 obriga a que a Consoada seja restrita. “Seremos quatro. Já estamos habitualmente juntos, portanto, é como se fôssemos família.”
Natal com toda a aldeia
Habituado a passar o Natal reunido com todos os habitantes de uma pequena vila de Angola, Marcos Dambi deverá celebrar o nascimento de Jesus com um grupo de estudantes católicos, no Seminário Diocesano de Leiria.
“Em Angola toda a vila é como se fosse uma grande família. A cidade organiza o Natal em conjunto. Cada um dá o que tem para que todos possam ter um Natal feliz. Há uma grande convivência pois toda a vila se conhece”, conta o estudante de Relações Humanas e Comunicação Organizacional da ESECS.
O funge e a cachupa nunca faltam na mesa, assim como os doces, mas o bacalhau também é ‘rei’. Presente estão também as músicas kuduro e kizomba. “É todo este ambiente que caracteriza o meu Natal em Angola.”
Marcos revela que já passou natais em Angola longe da família. “Sacrifiquei estar com a minha família para estar com as crianças de orfanatos. Mas a felicidade que me dá é imensa.”