As provas de surf em Peniche e na Nazaré transformaram o tecido comercial destes concelhos, desde a restauração aos alojamentos. O fluxo de visitantes deixou de ser regional e nacional para se tornar de escala mundial. Além disso, em ambos os concelhos, o turismo deixou de ter um cunho sazonal para se tornar permanente. Para acolher mais visitantes, também os vários tipos de negócios tiveram de se adaptar, apostando na qualificação e na profissionalização das actividades.
Estas são algumas das ideias partilhadas com o JORNAL DE LEIRIA, por agentes locais, na sequência do estudo[LER_MAIS] divulgado na passada semana, na sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste. De acordo a pesquisa, a etapa portuguesa do circuito principal da Liga Mundial de Surf (WSL), disputada em Peniche, e o evento de ondas gigantes na Nazaré produziram receitas acima de 23 milhões de euros em 2024 (20 milhões em Peniche e três milhões na Nazaré), com impacto nos espaços de restauração, de alojamento, transportes, entre outros negócios.
A Merlin Houses nasceu há cerca de cinco anos em Peniche e conta actualmente com oito alojamentos, no Baleal, três dos quais concluídos este ano, explica Inês Caiado, gerente do projecto. A proprietária não tem dúvidas de que a proximidade com o mar tem sido uma das atracções destes espaços, para surfistas e famílias, sobretudo estrangeiros, maioritariamente alemães, mas também de outros pontos da Europa e dos Estados Unidos. Antes da prova na Praia de Supertubos, “Peniche era diferente, com turismo sazonal. Agora há turismo todo o ano, com mais alojamento, mais escolas de surf, mais lojas de material desportivo e maior aposta na qualificação de quem acolhe”, constata Inês Caiado.
Percepção idêntica tem Bruno Pereira, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços da Nazaré (ACISN). “Desde que, há 13 anos, uma equipa da Nazaré preparou condições para que Garrett McNamara surfasse a onda gigante, criou-se uma projecção mundial da Nazaré, com visitas todo o ano.” O surf despertou o interesse pelo concelho, que é “visitado por pessoas de mais de 100 países e que fazem estadias médias de dois ou três dias”, refere o dirigente. Esta mudança trouxe maior responsabilidade da parta de quem acolhe e a ACISN tem vindo a ser parceira na formação e na qualificação dos agentes económicos locais, realça o presidente.
Também para Abel Santos, responsável pela Taberna 8 ó 80 (inaugurada em 2012) e pela Taberna d’Adélia (fundada em 1987), existe na Nazaré um antes e um depois da onda surfada por McNamara, que deu projecção das ondas gigantes em todo o mundo. As visitas deixaram de ser sazonais para acontecerem todo o ano e “deixámos de ter turistas da região e emigrantes de França, para sermos uma das terras mais procuradas de todo o País”.
Afinal, no que gastam os turistas?