Um holandês, um americano e um francês entram num bar em Castanheira de Pera. O barman dirige-se-lhes e pergunta: “o que traz três estrangeiros à nossa vila?” O holandês responde “a gastronomia excepcional”. O americano diz “a tranquilidade da natureza”. E o francês conclui: “os preços acessíveis”. Sentado numa mesa do canto, o presidente da junta, sorri orgulhoso e sussurra para o vereador do Turismo: “estamos a exportar Castanheira para o mundo… O turismo é a nossa melhor exportação.”
A tradicional piada surgiu prontamente na cabeça de quem se deslocou, na quarta-feira, ao Páteo da Galé, no Terreiro do Paço, em Lisboa, para o lançamento oficial da participação de Leiria como “município convidado” da Better Tourism Lisbon Market 2025, a nova designação da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, evento que decorrerá de 12 a 16 de Março na FIL.
O secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, fez um trocadilho não intencional, ao citar aquela vila como exemplo de destino de qualidade e com o facto de o turismo ser catalogado como “exportação” e uma das maiores parcelas da balança comercial nas contas do Estado. O Município de Leiria e os concelhos que integram a Comunidade Intermunicipal de Leiria (CIMRL) terão um expositor próprio, de maiores dimensões, que permitirá maior destaque durante o evento. O humorista Marco Horário será o embaixador da região.
Pretende-se mostrar o que há de melhor em diversas áreas, para atrair visitantes e profissionais do sector turístico. A BTL 2025 é considerada o “melhor mercado de turismo de Lisboa, uma montra privilegiada e a maior e mais importante feira de turismo em Portugal e a segunda mais importante da Península Ibérica”.
Esta deslocação tem como mote a cooperação e a partilha intermunicipais, numa reinterpretação do lema “a união faz a força”. A coesão é uma das receitas para o futuro do turismo em Portugal, sugeridas por Pedro Machado à plateia onde se encontravam autarcas dos dez municípios, empresários, agentes culturais e dirigentes associativos. O secretário de Estado acredita que a exposição na BTL de destinos menos “maduros” do que Lisboa, Porto e Algarve, é a forma de dar a conhecer a diversidade do País e levar mais visitantes para fora dos pontos turísticos mais tradicionais.
“Têm uma oferta turística muito em linha com o perfil dos novos consumidores, que procuram ecoturismo, enoturismo, turismo activo, literário, religioso e industrial, saúde e bem-estar. Oferta que está alavancada por unidades turísticas de menor dimensão e mais próximas do cliente”, afirmou, recordando que Lisboa, Porto e Algarve, até recentemente, englobavam quase 76% da procura turística portuguesa global. “Se olharmos para a curva de crescimento da região de Leiria ela é contínua e consistente, o que é um bom indicador”, garantiu.
No Orçamento do Estado para 2025, houve um aumento de 16% nas verbas destinadas ao Turismo do Centro [um milhão de euros a mais], região que conta com 100 municípios. “O Algarve tem apenas 16, o Alentejo tem 58, na região de Lisboa são 18. A complexidade, o desafio e as oportunidades não são iguais”, sublinhou Pedro Machado.
O governante adiantou os valores para o ano de 2024, que caracterizou como tendo sido “extraordinário” para o turismo. “Trinta e um milhões de hóspedes, num país com uma população de pouco mais de dez milhões de pessoas, e ainda 81 milhões de dormidas e mais de 27 mil milhões de euros de receitas”, contabilizou. O governante reconheceu que “o trabalho da CIMRL traduz bem aquilo que é um dos grandes alvos da marca ‘Portugal’.” De Castanheira de Pera, a Figueiró, Pombal, Leiria, até ao litoral, é uma das regiões mais emblemáticas, que une a serra e o mar. “Cada um dos municípios traduz um pouco daquilo que são as singularidades do território e a vantagem que ele representa para Portugal.”
Cooperação e partilha intermunicipais
Hoje, somos o 12.º país mais competitivo do mundo no turismo, contudo, afirmou Pedro Machado, falta criar as condições ideais para crescer com equilíbrio. Tal é conseguido, “pegando no mais pequeno dos municípios, com os seus atributos e somá-los aos dos seus vizinhos. A partir daí, como está a CIMRL a fazer – e bem -, criar produto. Isto significa criar as condições somar valor, dentro dos conceitos de cooperação e partilha intermunicipais.” Com esta coesão e criação de um novo agregado, explica, é possível fazer uma melhor “triangulação” das pessoas.
O presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pera, António Henriques, também presente na sessão de apresentação, representa o mais pequeno dos municípios da CIMRL, em termos populacionais. Aproveitando a oportunidade como uma montra para este território, referiu as especificidades e atractivos locais, e descreveu como a filosofia ensaiada pela comunidade intermunicipal nesta edição da Better Tourism Lisbon Market 2025. “Não nos podemos esquecer que o concelho será mais conhecido, se conseguirmos vender a região”, sublinhou.
Castanheira de Pera que quer ser reconhecido pela sua identidade e cujo interesse para o visitante vai além da Praia das Rocas. É neste concelho, rico em história, património natural, desporto de natureza e turismo industrial muito ligado à indústria da lã, que são produzidos os famosos barretes dos campinos, um dos mais famosos símbolos nacionais de Portugal.
Fátima: Turismo religioso em destaque
A 12.ª edição das oficinas de turismo religioso de Fátima acontecem nos dias 6 e 7 de Março, trazendo cerca de 130 operadores turísticos internacionais. Painéis de discussão sobre as últimas tendências, inovações e desafios no turismo religioso são alguns dos pontos numa agenda que prevê ainda uma conferência inter-religiosa sobre o turismo religioso como caminho de paz e fraternidade, além de palestras com representantes das religiões cristã (confissões católica e evangélica), hinduísta, judia e islâmica. Dados divulgados pelo presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque, indicam que o concelho registou 1.250.364 dormidas em 2024, +9,3%, face a 2023. Este valor representa cerca de 80% das dormidas na região do Médio Tejo.