Esta crónica sai um pouco fora do que habitualmente aqui publico. Procura manifestar e partilhar com os leitores um “estado de alma”. No mínimo, ficam a saber que há um leiriense que, nunca tendo desempenhado qualquer função oficial nem feito o serviço militar no Ultramar, conseguiu estar, nalguns casos várias vezes, em todas as parcelas do antigo Império português.
A última etapa foi cumprida no passado mês de Outubro em Timor, numa visita que durou 19 dias. A primeira parcela que visitei foi o Brasil, em Março de 1969, no âmbito da minha viagem de finalistas do ISCEF. Foi uma viagem inesquecível, de cerca de 30 dias, que permitiu percorrer aquele enorme país de lés a lés. Voltei lá mais vezes depois.
A Ceuta, cronologicamente a primeira jóia do Império, fui várias vezes também. A primeira vez em Abril de 1971. A última em 2015, na comemoração do 6.º centenário da conquista, à frente de um grupo de alunos e professores.
Em circunstâncias diversas tive oportunidade de visitar também as outras fortalezas portuguesas de Marrocos, desde Tânger a Agadir. Após o cumprimento do serviço militar, fiz várias viagens profissionais a Angola e Moçambique, entre 1972 e 1975. Aproveitando uma escala em Luanda, visitei num fim de semana prolongado S. Tomé e Príncipe, na véspera da data da sua independência, em Julho de 1975.
Nos anos de 76 e 77 fiz longas estadias profissionais em Cabo Verde, com particular incidência em Santiago, Sal e S. Vicente, mas visitando praticamente todas as restantes ilhas, ainda que de forma fugaz. Fiz uma pausa de Ultramar durante alguns anos, até que sou convidado pelo banco onde trabalhava para novas tarefas em Moçambique e Guiné-Bissau, tudo em 1990.
Em Novembro de 1997, a dois anos da entrega à China, passei uns dias em Macau. Uns anos mais tarde, aproveitando uma breve estadia em Buenos Aires, visitei a Colónia do Sacramento, no Uruguai, “a jóia sulista da coroa”, onde ainda se respira “portugalidade” q.b.. Aproveitando uma iniciativa do Centro Nacional de Cultura (“Os portugueses em busca do seu passado”) rumei à Índia portuguesa em Agosto/Setembro de 2014. Visitei Goa, Damão, Diu, Dadrá, Nagar Aveli e também Bombaim e as ruínas de Baçaim e Chaúl. Uma viagem também inesquecível.
Restava Timor, cuja oportunidade chegou agora. [LER_MAIS] Deu para percorrer todo o território, incluindo Ataúro e o enclave de Ocussi, local onde os portugueses desembarcaram a primeira vez para cristianizar e comercializar o “perfumado” sândalo a que se refere Camões nos Lusíadas.
Passei também por território de Timor ocidental, agora indonésio, mas que já foi português. Foi gratificante encontrar em Timor gente que, de uma forma geral, gosta de Portugal e dos portugueses. Comparando com os bárbaros indonésios que em 24 anos de ocupação mataram mais de 200 mil timorenses, não restam dúvidas de que o colonizador português foi infinitamente melhor.
Por último, aproveitando uma escala em Singapura, dei um pulo a Malaca, cidade conquistada por A. de Albuquerque em 1512 e perdida em 1641. Ainda hoje há ali gente a falar português e a sentir saudades de Portugal. Foi a “cereja” do bolo, também há muito desejada. E assim cumpri a minha “peregrinação” que em nada fica atrás da de F. Mendes Pinto. Só falta escrever o livro. *Economista