Sobre o papel e as funções que deve assumir e o modelo de sociedade que preconiza, pouco ou nada se tem refletido. Aliás, poucas pessoas falam até de quão redutor é dividir os quadrantes políticos em apenas esquerda/direita, confundindo conceitos económicos com conceitos de direitos individuais.
Há razões históricas ainda do tempo da outra senhora que justificam que seja hoje embaraçoso ou complicado para muitos assumirem-se como de direita. É que a isto junta-se a convicção generalizada de que a sociedade portuguesa é de esquerda, ainda que muitos nem saibam sequer o que isso significa.
Por isso, assistimos ao triste espetáculo de haver quem, por tacticismo da matemática eleitoral, vista as vestes que não são suas.
A profundidade da discussão ideológica que temos tido em Portugal resulta no estereótipo de que de direita só virão os conservadores, ou na gíria, os botas de elástico, tipicamente católicos, se forem adeptos de tourada tanto melhor, e os maiores destruidores e opositores do estado social.
Aliás, segundo estes seres iluminados, em primeiro lugar, se se é de direita, por maioria de razão, não existe sequer sensibilidade social ou preocupação com as pessoas, o que é ridículo, até a ver pelos espectros políticos dos países mais desenvolvidos (comparativamente com as experiências de sociedade em regimes de esquerda pouco moderada).
[LER_MAIS] Depois, outra máxima vigente é que a defesa da liberdade é no dicionário da política portuguesa património da esquerda. Mas depois as liberdades individuais batem de frente com a estatização, imobilismo e mediocridade latentes nas políticas defendidas pelos partidos de esquerda em que quanto pior melhor, desde que isso seja universal (e gratuito, portanto pago pelos nossos impostos).
E claro está, que a liberdade é só para alguns. Há por exemplo temas que a direita não tem a liberdade nem a autoridade moral sequer para discutir. Cultura então nem pensar. Ainda não percebi se será porque acharão que a direita não gosta ou não percebe de cultura.
Como é bom de ver, a muita esquerda falta cultura, em particular cultura democrática. Mas quando se quer passar para um nível mais avançado da discussão ou achincalhamento ideológico engaveta-se a direita na janela dos neoliberais e está o assunto arrumado.
E é desta forma que se tem travado o debate ideológico em Portugal. Entre a cobardia de quem não assume as suas convicções e a prepotência e arrogância de quem não aceita que haja mais do que uma forma de ver o mundo.
* Deputada do PSD
Texto escrito de acordo com a nova ortografia