Inteligência artificial e arte. “A aplicação mais poderosa”, acredita Aurélien Krieger, é a possibilidade dada ao artista de treinar um modelo que lhe permita explorar muito mais rapidamente o seu próprio estilo, por exemplo, na pintura. “É uma ferramenta” e há que “aprender a usá-la”, sinaliza. “Não vamos evitar a revolução”.
Mais: “A arte digital, que usa código, design generativo, é uma forma de criação”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “É o algoritmo que vai fazer a produção artística, mas o artista escreve o programa”. E conclui: “Se só fazes um prompt [instrução] e tens uma imagem, não sei se é arte, mas se estás a treinar o teu próprio modelo, a usar vários modelos, a ter tempo e trabalho para obter uma imagem que corresponde a uma visão, isso é arte”.
Produtor e formador, graduado em engenharia, natural da região de Marselha (em França) e ex-residente de cidades como Berlim, Londres e a capital do México, além de Lisboa, Aurélien Krieger apresenta-se como um “amigo de artistas” com experiência em curadoria e na concepção e produção de obras de arte computacionais, filmes, instalações e performances. Vive em Leiria desde meados de 2023 e é co-fundador do Obsolete Studio, que, entre a cultura e a educação, desenvolve projectos de aprendizagem, pensamento crítico e criatividade na intersecção da arte com a tecnologia, como é o caso da pesquisa sobre a linguagem das plantas, em Braga, no mês de Julho, durante a iniciativa Circuito: os participantes usaram eléctrodos e um dispositivo electrónico semelhante a um polígrafo para gravar e amplificar os sinais eléctricos emitidos pelas plantas e gerar composições sonoras em tempo real.
A primeira acção do Obsolete Studio em Leiria já está a ser preparada: um workshop no espaço Serra, a acontecer no início de 2024. A inteligência artificial “está a controlar a nossa vida agora mesmo”, ou seja, “não é o futuro, não é ficção científica”, comenta Aurélien Krieger. “É importante, pelo menos, compreender como funciona”.
Tipicamente, o Obsolete Studio procura envolver artistas, engenheiros, designers e criadores – ou qualquer pessoa com uma mente curiosa – para explorar a utilização criativa e crítica da tecnologia através de materiais educativos abertos e de investigação artística, em oficinas e cursos, residências ou eventos. É o que vai acontecer no Serra, onde os participantes serão desafiados a integrar ferramentas de inteligência artificial no seu fluxo de trabalho e a reflectir sobre o processo e o resultado. Está também prevista uma apresentação pública na cidade e a partilha da documentação produzida.
No currículo que disponibiliza na internet, Aurélien Krieger dá a conhecer projectos culturais e educativos anteriormente desenvolvidos em várias regiões do mundo, de França e Alemanha aos Estados Unidos, do Reino Unido e Roménia ao México e Colômbia.
Depois de dois anos em Lisboa, chega a Leiria para ficar: “Queremos investir tempo em Portugal para nos integrarmos e pensamos que numa cidade mais pequena temos mais oportunidade de estar com uma comunidade”.