Se há assunto que parece ter lugar reservado na comunicação social é a questão da falta de médicos, sendo praticamente diárias as queixas de populações e de responsáveis por centros de saúde e hospitais de Norte a Sul do País, aumentando o tom da contestação à medida que se vai caminhando para zonas afastadas dos principais centros urbanos.
O acesso aos cuidados de saúde será, aliás, um dos principais factores de desigualdade social que se sentem no nosso País, sendo evidente que, como afirmou em entrevista recente a este jornal Manuel José Carvalho, coordenador da Unidade de Saúde Familiar de Santiago, em Leiria, “na saúde há cidadãos de primeira e de segunda”.
O assunto é, com certeza, complexo de resolver, pois se assim não fosse já algum dos ministros que assumiram a pasta, a maioria personalidades de inegável competência, teria encontrado uma solução.
No entanto, há algumas questões que são difíceis de compreender, pelo menos por parte de quem olha de fora e não é possuidor de toda a informação.
Uma delas tem a ver com a deficiente distribuição de médicos pelo território, com o número de clínicos por mil habitantes a multiplicar-se várias vezes de uns territórios para outros, de que é um bom exemplo a comparação entre Leiria e Coimbra, que tem um rácio nove vezes superior ao da cidade do Lis.
Ou seja, além de um eventual défice de médicos, opinião que não é consensual, há uma concentração em algumas cidades e instituições em detrimento de uma distribuição mais harmoniosa e adequada às necessidades de cada território, o que leva a pensar que o método em vigor nos concursos de médicos não está adequado à realidade do País.
Não havendo soluções instantâneas, é evidente que este é um problema que necessita de entendimento entre as diferentes partes – sindicatos, Ordem dos Médicos e Governo – no sentido de definir um plano que permita esbater as assimetrias existentes, sendo que isso só se conseguirá se cada uma ceder um pouco, mesmo que não venda totalmente a alma.
[LER_MAIS] Para um leigo no assunto, os primeiros passos parecem evidentes: se faltam médicos, têm que se formar em maior número; se há médicos suficientes, têm que se distribuir melhor; para que haja uma distribuição mais equitativa, têm que se criar regras nos concursos que não permitam que os profissionais se concentrem onde é mais confortável trabalhar, deixando as zonas mais deprimidas sem cuidados.
Por último, se o sistema público está a perder atractividade para o privado, terá que melhorar as condições que oferece aos profissionais.
Como está, não é possível continuar, pois além do deficiente acesso à Saúde de boa parte da população, o problema acaba por corroer o funcionamento e sustentabilidade do SNS, como tem sido patente no entupimento das Urgências com problemas menores, mas também nos custos suportados com doenças graves que seriam muito menores se identificados e tratados precocemente.