No dia 20 de Janeiro de 2021, Donald Trump deixou de ser Presidente dos EUA.
Depois de um mandato de quatro anos pontuado por mais de vinte mil mentiras, conforme contou o Washington Post, Trump abandonou a Casa Branca. Não sem antes ter incitado um motim e ter apelado aos seus apoiantes mais fanáticos para perpetrarem um golpe de estado, situação que faria corar de vergonha qualquer aspirante a ditador de uma República das Bananas.
Joe Biden tomou posse e devolveu à função presidencial norte-americana uma aborrecida normalidade de que todos sentíamos falta.
Quanto à competência e à capacidade de sarar as profundas feridas deixadas pela administração Trump – não só internas, mas também muitas a nível internacional – veremos ao longo do mandato. Mas, para já, o mundo suspira de alívio.
De tal modo os norte-americanos estão aliviados que um dos assuntos mais comentados no Twitter depois da tomada de posse de Biden foi… a qualidade do sono.
Ironicamente, alguns dias depois de Trump sair de cena, um seu fã confesso e inconfesso copy cat recebeu meio milhão de votos nas eleições presidenciais.
Não quero discutir se foram questões conjunturais, a falta de um candidato de um certo partido, ou um mero voto de protesto.
Sei que este resultado foi alarmante e que tirou sono de qualidade a muita gente.
Das conversas que tive na noite eleitoral, senti muita preocupação e até um amigo que questionava se teria a sua geração desiludido a dos seus pais.
É, para mim, intrigante o que leva alguém a votar num cidadão que tem um discurso cavernícola. E digo intrigante num sentido literal, não depreciativo.
Que motivos levam um cidadão português a sentir que o candidato que melhor os representa é aquele que mente e é incoerente, de forma recorrente e comprovada?
Qual é o grau de desespero e de descrença no sistema democrático que este meio milhão de cidadãos (mais uns quantos que concordam e não votaram) sentem?
O que motiva este desespero e descrença na sociedade que construímos nas últimas décadas?
É certo que são ainda 90% de cidadãos que acreditam nos valores e no sistema democrático. Mas os resultados das presidenciais são um sintoma de alerta.
Por muito tentador que seja desdenhar da minoria de cidadãos que votou no candidato de extrema-direita – insultando-os, menorizando a sua inteligência ou assumindo que estão todos errados – é, certamente, mais útil compreender os seus motivos.
E, procurando genuinamente entender o que leva a tão profunda descrença e tão grande desespero, encontrar dentro do sistema democrático as soluções necessárias para os problemas destes cidadãos.
Não é possível manter business as usual. É necessário mudar algo, antes que alastre este estado a mais fatias da população.
É fundamental abandonar o taticismo autofágico de curto prazo e a conveniência com o trogloditismo em troca pelo poder conjuntural. Aproveitemos o desfasamento e aprendamos com o resto do mundo.
Vamos deixar exacerbar o desespero e a descrença até termos uma invasão ao Parlamento?
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990