A pedir pessangas nesta brincadeira sem graça que as deixa saudosas do brilho trémulo do sol no verde que eram, do sopro quente que as amolecia durante o dia e da frescura com que eram borrifadas ao sereno, garantindo a eternidade da suspensão temporária da vida de todos os dias durante o verão.
Num rompante, o vento levanta a saia e deixa a pele das coxas sentir a quentura do sol, enquanto se vai arrepiando a pele dos braços e as sandálias não conseguem impedir o gelar dos pés.
Os cabelos enrodilham-se na boca e obrigam a fechar os olhos que não conseguem assim seguir o vôo raso da gaivota, a desaparecer atrás dos bancos vermelhos rodeados de cameleiras e de poeira dourada.
Sentados, de calções e casaco fechado, ele e ela olham alternadamente o mapa e a cidade em redondo que os cerca, e encontram por entre as árvores o caminho que procuram. Levantam-se depois e, rindo, fazem-se ao caminho às arrecuas, contra o vento.
[LER_MAIS] Num rompante, o vento agita a água do rio e esborrata as linhas perfeitas de luz amarela presas às margens, que se contorcem agora, e tremem miudinho, como quem ri baixinho dos barcos pequenos que passam em silêncio, recortados no escuro.
A ponte inundada de luz branca garante às margens que nunca ficarão sós mesmo que nunca se encontrem, e que para sempre se poderão olhar embaladas pelas conversas em surdina dos pescadores que nelas se demoram, façam o vento, a chuva ou o frio que fizerem.
Num rompante, o vento aparece de frente ao virar da esquina, surpreende com o frio que faz na roupa de verão, e traz o pensamento do aconchego do corpo na lã macia. Em casa ainda é verão nos pés descalços e no gin beberricado ao entardecer.
Mas ouvem-se os risos do fim da tarde no recreio da escola, no chão caíram já as castanhas da índia e a copa, já um pouco menos densa, da árvore grande que tapa a janela começa a prometer deixar visível a cidade a vestir-se de Outono.
* Professora de dança