É uma história especial, provavelmente a única história do legado de teatro Dom Roberto que continua por resgatar do esquecimento, acredita José Gil, e a companhia S.A. Marionetas quer levá-la a palco já este ano. Ao todo, em 2025, a estrutura com sede em Alcobaça pretende estrear três espectáculos, vai voltar a organizar o festival Marionetas na Cidade e prevê lançar um livro e um documentário. Está tudo no projecto avaliado positivamente pela Direcção-Geral das Artes no programa de apoio sustentado às artes, concurso em que a S.A. Marionetas obteve um financiamento de 240 mil euros, confirmado, em decisão final, na sexta-feira, 31 de Janeiro.
O impacto da verba destinada ao biénio de 2025 e 2026 traduz-se em duas palavras: “Estabilidade financeira”, resume José Gil. O director artístico da S.A. Marionetas adianta que a equipa permanente (até agora constituída por três pessoas) vai duplicar com a abertura de uma vaga para produção executiva a tempo inteiro e mais duas posições a tempo parcial. Também o orçamento do festival Marionetas na Cidade, que costuma acontecer no Outono, em Alcobaça, será maior. E embora a companhia continue a depender de outras receitas, como as que resultam da bilheteira ou da venda de espectáculos, o apoio da Direcção-Geral das Artes permite, de facto, voar mais alto.
Os concursos para apoios sustentados abertos em 2024 pela Direcção-Geral das Artes contemplaram cinco entidades no distrito de Leiria: além da S.A. Marionetas, o Leirena Teatro (Leiria), a cooperativa Ccer Mais (Leiria), o Orfeão de Leiria e a Biblioteca de Instrução e Recreio de Valado de Frades (Nazaré), que organiza o festival de jazz. Vão receber, em conjunto, 1 milhão e 320 mil euros. A este valor, acrescem 3,5 milhões de euros de apoios sustentados quadrienais atribuídos em 2022 ao Teatro da Rainha (Caldas da Rainha), à Banda de Alcobaça e à associação Osso (Caldas da Rainha), que abrangem o período até ao final de 2026. Comparando com 2015, o contraste é evidente: há 10 anos, a Direcção-Geral das Artes pagou, no total, 315 mil euros a instituições com sede no distrito de Leiria.
Para Hugo Ferreira, da Ccer Mais, a evolução prende-se no caso de Leiria, sobretudo, com “o amadurecimento dos projectos” e o esforço “de profissionalização de determinadas estruturas”. E aponta o exemplo vivido na primeira pessoa, desde os tempos em que integrava a associação de acção cultural Fade In: “Tenho 14 negas [da DGArtes]”. Contas feitas, “uma década e tal de tentativa e erro”.
Mais abertura, mais orçamento
Outra explicação, ainda de acordo com Hugo Ferreira, está relacionada com o “redireccionamento” do olhar da DGArtes, que, por um lado, passou a ter maior abrangência territorial, e, por outro, procura “não fechar completamente as portas a quem aparece de novo”. Se antigamente, havia “regras mais apertadas”, que “favoreciam quem já estava no radar”, agora existe “maior abertura” e o orçamento também é maior, embora “continue a ser insuficiente”.
O novo modelo de apoio às artes para actividades profissionais colocado em prática através da Direcção-Geral das Artes entrou em vigor em 2017 e estabeleceu três tipologias, com o apoio sustentado (bienal ou quadrienal) a focar-se na sustentabilidade e consolidação das entidades elegíveis.
Para a Ccer Mais, a renovação do apoio, para mais dois anos, no valor de 240 mil euros em 2025 e outros 240 mil euros em 2026, favorece, segundo Hugo Ferreira, a “continuidade de acções bandeira” como são os projectos A Música Dá Trabalho, Omnilab, Ágora, Nascentes e Mapas, e, ao mesmo tempo, “a renovação da equipa”. Estão previstos, entretanto, dois novos projectos de participação nas artes.
7,8 milhões desde 2017
Para o Orfeão de Leiria, que tinha ficado fora dos apoios sustentados, de forma surpreendente, em 2022, o financiamento de 240 mil euros (120 mil em 2025 e 120 mil em 2026) garantido no mais recente concurso possibilita “fazer uma programação com outra segurança”, reconhece o presidente Vítor Lourenço. “Nunca o festival [Música em Leiria] dependeu só do apoio da DGArtes, mas com o apoio da DGArtes acabamos por estar mais descansados”. Consequentemente, há novidades: o festival “cresce em 2025” e para 2026 tem “propostas faladas que de outra maneira não podiam ser trazidas a Leiria, pelos custos”, diz Vítor Lourenço. “Essa é uma vantagem, trabalhar com outro fôlego”.
Desde o primeiro concurso de apoio sustentado, em 2017, até ao mais recente, em 2024, foram contempladas nove entidades no distrito de Leiria, dos concelhos de Alcobaça, Caldas da Rainha, Leiria, Nazaré e Óbidos, que receberam ou vão receber, em conjunto, 7,8 milhões de euros da Direcção-Geral das Artes: Associação de Cursos Internacionais de Música de Óbidos, Banda de Alcobaça, Biblioteca de Instrução e Recreio de Valado de Frades, Ccer Mais, Leirena, Orfeão de Leiria, Osso, S.A. Marionetas e Teatro da Rainha.