Textiverso, Briza, Hora de Ler, Jorlis, o CRID – Centro de Recursos para a Inclusão Digital, do Politécnico, focado no multiformato, são várias as editoras que a partir de Leiria continuam a promover o encontro entre autores e leitores, e que, em mais um Dia Mundial do Livro, que se assinala hoje, 23 de Abril, oferecem exemplos de perseverança num mercado cada vez mais disputado e dominado por grandes grupos editoriais.
Com cinco nomes de Leiria no colectivo, a Minimalista soma 12 títulos e prevê lançar outros quatro ainda este ano. Antes do Verão, será inaugurada a colecção de poesia, com uma obra de Lúcia Vicente, e sairá a primeira peça para teatro, assinada por Joana M. Lopes, além da terceira antologia de contos e poesia, com diferentes contribuidores. Na segunda metade de 2024, o plano contempla uma edição em torno do conceito de liberdade, também escrita a várias mãos.
No arranque, em 2020, os 12 fundadores da Minimalista pagaram as despesas do primeiro livro, que gerou margem para os seguintes “dois ou três”, explica Paulo Kellerman. A ideia é que cada um “seja sustentável e que permita financiar os próximos”, adianta. “Precisamente, só isso: o pagamento dos direitos de autor e assegurar que haja uma continuidade”. E nem o formato digital muda os pressupostos do modelo: “Na nossa experiência concreta e específica, não será o futuro”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Creio que continua a haver uma grande apetência pelo objecto papel. Se calhar, a dificuldade no salto [para o e-book] é que, provavelmente, a diferença de preços ainda não é tentadora”.
Num sector em que as vendas resultam de “uma grande luta”, a concorrência “obriga a que cada edição seja pensada”, conclui Paulo Kellerman. “Não estamos aqui para fazer número, estamos para publicar livros de que gostamos e que se sejam financeiramente racionais”, argumenta. “Continuo a achar que há espaço para projectos mais pequenos e que há interesse dos leitores”.
A mesma crença encontra-se na Barca do Inferno, que, ao contrário do que o nome sugere, tem conseguido chegar a bom porto. A mais recente novidade no catálogo – Maria Lamas, Amor, Paz e Liberdade – beneficiou da angariação de 4.490 euros através de uma campanha de crowdfunding: 12% acima do objectivo. Também este ano, saiu uma segunda edição sobre Manuel Cargaleiro, da colecção Artistas Portugueses do Século XX, já com nove volumes. O recurso ao crowdfunding não tem sido a primeira opção de Rui Pedro Lourenço (ilustração) e Mafalda Brito (texto), proprietários e únicos funcionários da editora, especializada em livros ilustrados, para todas as idades. “Trabalhamos muito em parcerias com municípios ou museus”, descrevem. Exemplos, Os Pés de Iria (de Luís Mourão), A Criança do Lapedo ou Leiria Medieval, todos em associação com a Câmara de Leiria. “Quase todos os temas, na verdade, somos nós que propomos”. Uma excepção, o empreedimento relacionado com os irmãos Stephens e a história do vidro, encomenda da autarquia da Marinha Grande.
“Livros com humor, arte, poesia, perguntas e viagens”, lê-se no entrada do site da Barca do Inferno. É o caso de Avieiros, a vida entre o mar e o rio, A pequena rã da boca grande (de Francine Vidal e Élodie Nouhen) ou O homem da gaita (de José Afonso). “Procuramos sempre que sejam livros que nos agradem”, assinala Rui Pedro Lourenço. O negócio “não é fácil” face a competidores que “compram os lugares de destaque nas livrarias”, o que, para os restantes, “dificulta a distribuição”, aponta Mafalda Brito. “Hoje não se vende pela qualidade, é pelo marketing à volta”.
Entretanto, no próximo dia 27 de Abril, um sábado, outra editora independente com existência a partir de Leiria, a Paper View, volta a ligar novos lançamentos (neste caso, de uma obra de Ana Mota) com a abertura de uma exposição, agendada para as 18 horas, no número 31 da Avenida Nossa Senhora de Fátima. Além dos eventos que agregam estéticas e tribos, “um plano editorial” e “uma linguagem”, segundo Sal Nunkachov, têm permitido afirmar a diferença. “Não sei se há mais alguma editora em Portugal a editar poesia visual e concreta, pelo menos, em exclusivo”. A venda “é quase sempre internacional” e os autores são “maioritariamente estrangeiros”.
Mais de 300 edições, em pequenas tiragens, movimentadas entre feiras de autor e encomendas através da internet, num circuito alternativo que escapa à lógica do mainstream. “A nível pessoal”, a Paper View, “não só é sustentável como é indispensável”, destaca Sal Nunkachov, para quem o futuro do livro será “parecido com os últimos 400 ou 500 anos”. E conclui: “nunca se publicou tanto como hoje”.
De acordo com dados da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) divulgados pela agência Lusa, no primeiro trimestre de 2024 venderam-se mais de 2,9 milhões de livros em Portugal, o que representa um crescimento de 5,8% em relação ao mesmo período de 2023 e um encaixe de aproximadamente 42 milhões de euros, 7,6% superior por comparação com os meses de Janeiro, Fevereiro e Março do ano passado. O género mais procurado foi a literatura infantojuvenil, 35,3% do total. Já no ano de 2023, a venda de livros em Portugal cresceu 5% em valor, em relação a 2022, impulsionada sobretudo pelas faixas etárias mais novas e pelas redes sociais.