Passava da meia-noite e meia e a fila para entrar na discoteca Guilt, em Leiria, era significativa na madrugada de sábado. Vários jovens, a maioria na casa dos 20 anos, esperava calmamente pela sua vez para poder entrar e divertir-se, finalmente, numa pista de dança.
“Ficámos muito contentes quando soubemos que as discotecas iam abrir. Tem de haver cuidados, mas as pessoas já estão vacinadas. Foram tempos depressivos e aborrecidos”, conta um grupo de estudantes do Politécnico de Leiria, ao lamentar que a pandemia lhes roubou parte da vida académica.
Os momentos que conseguiram ter juntos foram encontros resguardados. “Juntávamo-nos, grupos pequenos, em casa. Estávamos já habitualmente juntos na escola. Houve sempre cuidado e a prova é que nenhum de nós teve Covid-19”, salientam, confessando que a expectativa para a noite era de “arromba”.
“Estávamos mesmo a precisar disto. Vai ser dançar até fechar”, rematam os jovens com idades entre os 19 e os 22 anos.
Mais à frente, um grupo de brasileiros confessava que estava há cerca de uma hora para entrar. “As pessoas só entram com certificado ou [LER_MAIS]com um teste negativo e acaba por demorar mais tempo, mas também é mais seguro. A fiscalização está mesmo a ser rigorosa”, constataram os jovens, com idades entre os 17 e os 24 anos.
Ansiosos por voltar à discoteca, depois de um período largo de confinamento, não desistiram da espera até conseguirem entrar. Os seguranças da Guilt cumpriram à risca o controlo. Com uma pequena máquina liam o QR code dos certificados de vacinação. “Estás a querer enganar-me?”
Atentos e implacáveis, quem não possuía o documento ficava à porta. “Se não tivesse vacinada tinha de ter um teste negativo, mas realizado na farmácia, não podem ser aqueles que fazemos em casa”, explicava uma jovem, já dentro da discoteca. “Estivemos muito tempo à espera, mas já tinha muitas saudades de vir à discoteca. Esta reabertura pode vir a prejudicar a Covid, mas precisamos disto. O ser humano é um ser social”, adianta outra rapariga. O rapaz do grupo salienta que “os indicadores de depressão aumentaram”, sobretudo, nos jovens, pelo que as “saídas com os amigos são mesmo necessárias”.
Todos vacinados, estes estudantes, com idades entre os 18 e os 19 anos, confessam que o certificado tem pouca influência na prevenção da Covid-19. “Eu estou vacinada, mas posso estar infectada e nem sequer ter sintomas e vir para a discoteca”, adverte, com a anuência da amiga que considera que esta regra é “uma forma de obrigar todos a vacinarem-se e a conseguir atingir-se rapidamente a imunidade de grupo”.
Mauro Carvalho, gerente da Guilt, afirma que a afluência de clientes desde quinta-feira até domingo até “foi acima das expectativas”. No entanto, lamenta que “nem todas as casas cumpram com as regras impostas pelo Governo”. “Não é justo que haja quem não cumpra e até se façam testes rápidos à porta”, denuncia, ao frisar que discotecas e bares estão abrangidos pelas mesmas regras, que passam por solicitar certificado de vacinação ou teste negativo nas últimas 48 horas.
Segundo Mauro Carvalho, nem todos os clientes aceitaram bem serem barrados à porta por falta de certificado. “Alguns não tinham ainda a segunda dose e outros ainda não tinham passado os 14 dias para o certificado estar válido”, explicou, ao sublinhar que a Guilt vai continuar a cumprir, garantindo a segurança de todos no seu estabelecimento.
Considerando que um ano e meio sem trabalhar foi “duro” para aguentar o negócio, Mauro Carvalho afirma que é “preferível facturar pouco do que estar fechado”, pois, assim, sempre vai “amortizando as contas”, entre as quais os 19 meses de renda por pagar.