Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o preço médio do metro quadrado da habitação no distrito de Leiria (fogos novos e usados) é de 1.136 euros.
Trata-se de uma subida de 35,24%, registada entre 2020 e o segundo trimestre de 2024.
Sem surpresa, os valores médios mais baixos (novos e usados) estão nos concelhos do interior norte, onde o metro quadrado vai dos 377 euros em Castanheira de Pera aos 613 de Figueiró dos Vinhos.
Os mais altos verificam-se na Nazaré (2.158 euros), Óbidos (1.799 euros) e Peniche (1.712 euros).
Mas se atentarmos apenas à habitação nova, nestes três municípios, os valores são de 2.454 euros, 2.101 euros e 2.034 euros, respectivamente.
Norberto Isidro acredita que os baixos preços no norte do distrito se devem, essencialmente, aos fogos que, em 2017, mataram mais de 60 pessoas.
O agente imobiliário que actua na região Oeste, explica que, além de o mercado ter pouca dimensão, os estrangeiros que os procuravam ficaram alarmados e abandonaram as áreas, dominadas pelo eucalipto e pouca densidade populacional.
Por outro lado, nos últimos anos, tem-se verificado que o surf atrai cada vez mais gente aos dois principais pontos no distrito onde este desporto é rei.
Falamos da vila da Nazaré (aumento de 63% do preço entre 2020 e 2024) e Peniche (+57%).
Tradicionalmente, também, os concelhos com praias, por serem locais privilegiados para habitação de férias, registaram, desde 2020, grandes aumentos.
Além da subida nacional dos preços, o turismo em concelhos como estes ou em Óbidos (+46%) provocam um crescimento ainda maior do valor do metro quadrado.
Alcobaça (+50%) e Caldas da Rainha (+57%) também sentiram esse fenómeno.
No caso de Caldas da Rainha, a implantação de mais habitação poderia baixar os preços, contudo, há vários motivos para que não se faça esse investimento.
É o caso do Plano Director Municipal (PDM), que “não tem revisões há 20 anos”, e “poucas empresas com coragem para fazer construção em altura”, devido à falta de financiamento.
Impossível construção nova por menos de 1.500 euros
Diamantino Caçador, agente imobiliário em Leiria e Marinha Grande, também atribui às praias e ao turismo a explicação para valores mais elevados.
“Leiria (+43%) é uma excepção, pois a praia do Pedrógão tem preços mais baixos do que a zona urbana.”
Curiosamente, no concelho da Marinha Grande, onde os preços subiram 46% desde 2020, São Pedro de Moel tem um impacto no valor do metro quadrado inferior àquele que seria de esperar.
Isto porque, de acordo com Diamantino Caçador, não se registam muitas transacções imobiliárias naquela localidade.
“Não há obra nova e os proprietários tendem a não vender.”
O epicentro a nível nacional dos aumentos de preço, foram as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, mas, à medida que se esgotou a oferta nestas áreas, as periferias, começaram a apresentar subidas de valor.
“Os preços da mão-de-obra, dos materiais e das licenças fazem com que seja impossível fazer uma construção nova por menos de 1.500 euros por metro quadrado, seja em Ansião ou em Leiria. Por isso, quando se apresentam valores médios de 500 euros em Alvaiázere, Ansião, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande estamos apenas a falar de imóveis usados ou em ruínas, para restaurar”, explica.
Apesar de agora o cenário se assemelhar difícil, Diamantino Caçador está convencido que, com o passar dos anos, o preço do metro quadrado estabilizará.
Aricop
Terreno para construir é um luxo
José Luís Sismeiro, presidente da Aricop – Associação Regional dos Industriais de Construção e Obras Públicas de Leiria e Ourém, diz que a explicação para os valores por metro quadrado é a velha e simples lei da oferta e da procura.
O empresário explica que várias coisas estão a concorrer para a subida do valor do metro quadrado de novos fogos habitacionais.
“Um terreno apto para construir algo que tenha expressão é um luxo. São muito escassos”, afirma.
Os materiais que, pela sua ausência no pós-pandemia, foram apontados como gatilho para a subida de preços da construção, até são dos poucos factores que deixaram de contar para o fenómeno.
“Estabilizaram em linha com a inflação, mas o preço dos terrenos para construção aumentaram entre 50 a 60% desde há três anos. São eles e a mão-de-obra, cada vez mais escassa, que estão a puxar para cima. E não tem havido medidas eficazes, da parte da tutela para resolver o problema”, alerta.
O empresário assegura ainda que, apesar de terem sido pensadas para resolver a falta de habitação, as políticas do Plano de Recuperação e Resiliência vieram “agudizar ainda mais” o problema.
“Há medidas, mas sem pessoas as casas não se constroem! Com a explosão de obras públicas, deixou de haver capacidade para responder a todas as solicitações. Passou a haver empreitadas a mais com prazos muito reduzidos. Tirando a habitação a custo controlado, assegurada pelas autarquias, tudo está a criar stress nos valores de mercado”.
Acresce a isto o facto de os industriais da construção civil estarem a ficar velhos e muitos estarem a aposentar-se, reduzindo o número de empresas no mercado.
“Tenho vendido apartamentos a pessoas que compraram terrenos para construir e que não encontraram empreiteiros para a obra!”
Quanto ao mercado da reabilitação, a quantidade de imóveis recuperados continua a ser residual.
“É um negócio à parte. Tem muitos condicionalismos que tornam o investimento muito pouco atractivo, embora o IVA até tenha uma taxa reduzida.”
Salienta que “a reabilitação é um submundo com demasiadas condicionantes” e que não permite criar fogos em quantidade suficiente para resolver o problema dos preços e da falta de habitação.