“Como é que continuamos a rezar? Que tipo de oração é necessária no tempo da tecnologia?” As perguntas são de Gonçalo M. Tavares, que encontrou em Ourém “algumas complexidades” e “uma ligação importante” para continuar a estudar a “questão religiosa” que o levou a escrever, por exemplo, Aprender a Rezar na Era da Técnica, romance de 2007 em que dá vida a um cirurgião que troca a medicina pela política e a quem a mão que segurava o bisturi e os comandos da cidade começa, entretanto, a tremer.
Pessoas, Espaços, Cultura e Tradições de Ourém, documentário de 40 minutos, com curadoria de Gonçalo M. Tavares, será exibido no próximo sábado, 29 de Março, na sala estúdio do Teatro Municipal de Ourém. A sessão, de acesso gratuito, inserida no programa da 8ª Festa do Livro de Ourém, tem início às 18 horas e inclui uma conversa informal com alguns dos intervenientes no processo de criação. Entre eles, o autor, que está traduzido em 70 países e conta com vários prémios internacionais.
Do real para o imaginário
Anteriormente, Gonçalo M. Tavares esteve envolvido em projectos semelhantes nos concelhos de Aveiro, Paredes e Almada, mas, na região de Ourém e Fátima encontrou particularidades que têm que ver com a “mistura entre campo” e “cidade”, e, sobretudo, com a expressão da fé.
“Tem esta valência invulgar, de ser um espaço por onde passa uma peregrinação gigantesca”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “A questão, por um lado, do castelo, a questão do antigo, da memória, e a questão religiosa, que também por um lado vem dessa memória, dessa tradição das orações e da velha tradição da peregrinação, são coisas que me parecem fortes e que me interessam também para os meus ensaios, para a minha ficção”.
Encomenda do Teatro Municipal de Ourém, o documentário, segundo Gonçalo M. Tavares, procura “olhar para a história e, de alguma maneira, olhar para o presente”, em busca de novas respostas. “O que é que se passa? Como é que se está a construir uma nova comunidade, também artística?”.
Tempo para o futuro
“Ter um documentário de alguém que tem o percurso que tem, pareceu- nos que era importante”, comenta o director do Teatro Municipal de Ourém. “Achámos que completava o trabalho que já estamos a fazer”. João Aidos salienta que, em contraste com a natureza efémera das produções que todas as semanas ocupam o palco da sala de espectáculos, em Pessoas, Espaços, Cultura e Tradições de Ourém, que inclui “uma parte de descoberta e diálogo”, há um observador “de fora”, e um pensamento “mais contemporâneo”, que permitem fixar os dias que correm. “Registámos este momento com um artista que fez uma residência, que esteve no nosso território”.