Inaugurados há cinco anos, os famosos passadiços do Paiva, no concelho de Arouca, revelaram-se uma das mais geniais ideias na área do turismo que surgiu em Portugal nos últimos tempos.
O sucesso nacional foi imediato e os prémios internacionais não tardaram a chegar e a multiplicar-se. Nem mesmo o duro revés que o projecto sofreu, quando um violento incêndio destruiu parte do percurso, lhe veio retirar o brilhantismo.
A recuperação não só foi rápida como incluiu a sua ampliação e valorização, com a instalação da maior ponte pedonal suspensa do mundo, em fase de conclusão. A ideia acabou por inspirar outros projectos semelhantes, que foram nascendo noutras zonas do país, incluindo na região, onde vários municípios estão a executar ou a projectar os seus próprios passadiços.
É o caso do das Fragas de São Simão, no concelho de Figueiró dos Vinho, ou do da Ribeira de Quelhas, em Castanheira de Pera, que ficarão concluídos nas próximas semanas. Mais atrasado encontra-se o do Agroal, no Município de Ourém, cujo projecto está a ser ultimado, prevendo- -se que a obra arranque depois desta época balnear.
Estes novos passadiços juntam-se àqueles que já existem em algumas praias da região, construídos sobretudo para protecção das dunas e que se apresentam como boas soluções para desfrutar da beleza da nossa costa.
Plataforma suspensa sobre as Fragas de São Simão
As Fragas de São Simão, uma das mais belas praias fluviais da região Centro, tem um novo atractivo: um passadiço, que faz a ligação entre a aldeia de xisto de Casal de São Simão e a estância balnear.
Com inauguração marcada para o dia 3 de Julho, a obra custou cerca de 400 mil euros, tendo sido financiada em 90%. Ao longo de quase um quilómetro, o passadiço interliga vários pontos de interesse.
O visitante é convidado a deixar o seu meio de transporte no estacionamento criado no topo da encosta que ladeia a praia e começar por observar a paisagem a partir do Miradouro de São Simão, também ele reabilitado no âmbito da empreitada, que tem uma plataforma suspensa sobre as Fragas de São Simão.
O passadiço conduz depois o visitante até à praia fluvial, onde a vegetação densa que a rodeia e a água cristalina não deixam ninguém indiferente.
Seguindo o percurso, a ponte que atravessa a ribeira apresenta-se como um magnífico ponto de observação. Ladeando a ribeira de Alge, o passadiço permite apreciar ainda “traços do passado, sejam as frondosas pedras dos antigos moinhos, uma ou outra ruína de antigas habitações e uma vasta área de vegetação autóctone que, ao cimo, o levará ao coração da aldeia de Casal de São Simão”, realça o Município de Figueiró dos Vinhos.
A visita à povoação será a oportunidade para observar a beleza do casario em xisto, praticamente todo recuperado, que se estende ao longo de uma rua, ou para uma visita à loja de produtos regionais e ao um restaurante típico.
O percurso, que poderá ser feito em sentido inverso, termina junto à ermida de São Simão, um ponto que permite observar o passadiço já percorrido. “Este projecto é verdadeiramente estruturante na óptica da captação de turistas e na criação de um produto turístico”, alega a Câmara de Figueiró dos Vinhos, que sublinha o facto de a obra permitir “interligar três espaços que se encontravam desarticulados – miradouro, praia fluvial e aldeia de xisto do Casal de São Simão” – e, ao mesmo tempo, “promover a sua ligação à ribeira de Alge”.
Por outro lado, “a diversificação e qualificação da oferta permite à iniciativa privada dinamizar actividades e criar produto turístico”. A expectativa do [LER_MAIS]Município é que, além do restaurante e da loja existentes na aldeia, as actividades de turismo de natureza venham a ter “um importante incremento”, e que, através do projecto do passadiço, seja possível captar mais turistas “para todo o concelho”, potenciando outros pontos de interesse.
Mais de 1200 metros de passadiço em Castanheira
Mais a Norte, no concelho de Castanheira de Pera, há um outro passadiço em fase de conclusão. Com cerca de 1.200 metros de extensão, o percurso estende-se pela margem direita da ribeira de Quelhas, junto à aldeia do Coentral.
O objectivo é, por um lado, facilitar o acesso a esta maravilha natural do distrito, e, por outro, garantir a preservação do património natural, permitindo que a visita se faça por percursos previamente definidos.
O JORNAL DE LEIRIA solicitou, há duas semanas, informações à Câmara sobre o projecto, mas não obteve resposta. Numa nota de imprensa, divulgada há alguns meses, Câmara de Castanheira de Pera refere que este projecto “é parte de uma nova estratégia local tendo em vista diversificar e articular a oferta de lazer e turismo disponível no concelho, ainda muito localizada e sazonal”, voltada para nichos vocacionados para o contacto com o património natural, cultural e paisagístico.
Com um propósito inclusivo, estes passadiços permitirão ao visitante percorrer a margem da ribeira de Quelhas, por entre fragas de xisto e de granito, refúgio de espécies protegidas, enquanto visita várias quedas de água e pequenas lagoas. Financiada no âmbito do Programa Valorizar — Linha de Apoio à Valorização Turística do Interior, a obra custou perto de 400 mil euros, comparticipados em cerca de 358 mil euros.
Deverá ficar concluída nas próximas semanas. Em Ourém, o Município está a finalizar o projecto para a criação de um passadiço na praia fluvial Agroal. O percurso nascerá na margem esquerda do rio Nabão, entre o parque natural e a ponte que liga os municípios de Ourém e Tomar e terá uma extensão de 760 metros, sendo que 584 metros estão implantados em troço de passadiço.
Em causa está um investimento na ordem dos 345 mil euros, financiado em 85%. Segundo o presidente da Câmara, Luís Albuquerque, o projecto “encontra- se na fase final de aprovação pelas entidades externas”, sendo que após a conclusão dessa etapa “estão reunidas todas as condições para lançar o concurso da empreitada para a construção do passadiço do Agroal”.
Passadiço da Foz do Arelho em atlas mundial A par dos novos passadiços, criados em zonas de interior, a região dispõe já de várias estruturas do género ao longo da costa, instaladas para proteger as dunas, mas que proporcionam excelentes pontos de observação da paisagem. É o caso dos passadiços da Foz do Arelho, em Caldas da Rainha, inaugurados em 2016, após um investimento na ordem de um milhão de euros.
Com cerca de 800 metros, os passadiços foram desenhados pela arquitecta paisagista Nadia Schilling e integram o Atlas of the World Landscape Architecture, um livro de arquitectura paisagista a nível internacional da autoria de de Markus Sebastian Braun e Chris van Uffelen.
São Pedro de Moel, Paredes de Vitória ou Osso da Baleia são outras das praias da região com passadiços.