É daqueles casos em que se aplica o lugar comum: filho de peixe sabe nadar. Bruno Trigo Gonçalves é filho do dj Trigo (que muitos em Leiria recordam dos tempos da Alibi e da Stressless) e tal como o pai tem o hábito de incendiar pistas de dança. Esteve, recentemente, no Lux, onde apresentou ao vivo o próximo trabalho, que deverá ser editado em 2022 e é o primeiro longa duração que assina com o nome artístico, Phoebe.
Um dia antes de actuar no Lux, o produtor e dj natural de Leiria disponibilizou um novo tema na plataforma digital Bandcamp, com o título Marrazes, referência aos anos de infância e adolescência, aos amigos e à família com raízes africanas, do lado materno, que o levavam a estar frequentemente no bairro Sá Carneiro, o Saka, inspiração para os ritmos que gosta de tirar dos pratos, em contraponto com o rock dos anos 80 e 90 que mais regularmente ouvia em casa do pai.
“Os meus dj sets, a maior parte, são kuduro e cenas com percussões africanas, influência da minha avó materna, enquanto a música que faço já é mais dark, já vem se calhar do meu pai”, reconhece, na conversa por telefone com o JORNAL DE LEIRIA, depois de explicar que, após dois anos quase sem conseguir finalizar ideias, se encontra “num lugar melhor” e numa fase criativa de produção intensa.
Depois de finalizar o ensino secundário em Pedrógão Grande e Coimbra, Bruno Trigo Gonçalves estudou cinema em Hong Kong e engenharia de som em Berlim, até se fixar em Lisboa, em 2015, onde continuou a respirar através da música electrónica, entre trabalhos em restaurantes, bares e call centers, para pagar as contas.
Actualmente, além de colaborar com a Rádio Quântica, está ligado à programação dos festivais Ano 0 e Rama em Flor e é um dos fundadores da editora Troublemaker Records, oficialmente criada em 2018, onde também estão nëss, Odete e Herlander.
Com o projecto Phoebe, tocou em espaços e eventos como Musa, Musicbox, Arroz Estúdios, Village Underground, Ano 0, Boiler Room, Pérola Negra, Galeria Zé dos Bois, Damas, Ithaka Festival e Clokenflap.
E editou três EP, entre outros trabalhos: Affection (Troublemaker Records, 2019), Living On Valued Energy (Quântica, 2020) e if i was simple in the mind, everything would be fine, pela Rotten Fresh, já este ano.
Com o colectivo Troublemaker Records, tem ajudado a definir a banda sonora da emancipação para as comunidades queer e a afirmar a mensagem anti-racista. O que o leva a dizer que a editora nunca irá gravar um artista branco e hetero. E explica: “É uma tentativa de criar um ambiente seguro. E essa vai ser sempre a nossa base. Sentires-te bem com os teus amigos e com as pessoas que estão à tua volta”.
À distância – “identifico-me bué com Leiria e com as pessoas de Leiria, porque cresci aí, mas eu tinha de ir embora para ser eu, para fazer as coisas que queria fazer; em Leiria não era, nem é, possível” – mas atento ao que se passa, Bruno Trigo Gonçalves acredita que a música electrónica ainda precisa de vencer um certo estigma que lhe é associado para existir em liberdade em Leiria. “E eu sei que há público”.