O recente escândalo, em torno da “saloíce” do ex. Secretário-Geral do PSD que quis fazer-se passar por visiting Scholar em Berkeley, trouxe a lume o debate sobre os títulos académicos. Na verdade, cada vez menos pessoas acreditam neles. Além disso, torna-se cada vez mais evidente que as relações próximas do poder trazem mais benefícios do que qualquer título académico.
O próprio poder central e autárquico é constituído, cada vez mais, por pessoas de qualidade duvidosa, embora seja justo referir que existem, felizmente, honrosas exceções. Basta analisarmos o (des)nível de grande parte dos atuais deputados comparativamente à imensa qualidade daqueles que aprovaram a Constituição de 1976.
Mário Soares, António Arnault, António Barreto, Sophia de Mello Breyner (PS), Sá Carneiro, Mota Pinto, Marcelo Rebelo de Sousa, Vasco Graça Moura (PSD), Álvaro Cunhal, Vital Moreira (PCP), Adelino Amaro da Costa, Freitas do Amaral (CDS), são apenas alguns dos nomes da enorme fileira de notáveis deputados da constituinte.
“Alunos e famílias não acreditam que estudar compense” era, precisamente, o título de uma notícia recente no jornal “Público” que tinha por base um estudo encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Verifica-se esta expetativa negativa, não obstante ser evidente que a realidade tem sido bem diferente do que é percecionado, já que quem detém uma licenciatura não apenas tem tido mais facilidade em encontrar emprego como também tem sido melhor remunerado.
Os números da OCDE publicados no Education at a Glance em 2017, não deixam margem para dúvidas e evidenciam que, em Portugal, o salário de um licenciado é, em média, 69%. superior [LER_MAIS] ao dos que detêm apenas o ensino secundário.
Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, acerca dos Benefícios do Ensino Superior, reflete não apenas as vantagens económicas, mas também outros indícios de uma melhor qualidade de vida por parte de quem detém maiores habilitações académicas.
Esse estudo, que recolheu dados do European Social Survey, conclui que os licenciados apresentam índices de satisfação elevados com o tipo de emprego que detêm e com a qualidade de vida que desfrutam. No entanto o caminho, em toda a Europa, aponta para uma mudança, no que diz respeito à dicotomia habilitações vs emprego.
A curto prazo, ser mestre ou doutor, deixará de garantir, sequer, trabalho numa caixa de supermercado. Um recente estudo, levado a cabo pela espanhola Deusto Business School (DBS), concluiu que dominar várias áreas do saber é a chave do sucesso no futuro próximo e condição sine qua non do êxito individual na era digital.
Nesta nova circunstância depreende-se que, os trabalhadores mais valiosos não serão os que detenham conhecimentos, ainda que elevados, numa só área, mas antes os que possuam competências multidisciplinares.
Um diretor de recursos humanos precisará de conhecimento em matérias tão distintas como o direito, a estatística e o comportamento. Serão os policompetentes a triunfar e não os unicompetentes. González-Bree, professor de inovação da DBS, chama-lhe “efeito Medici”.
Tudo indica que caminhamos para o ressurgimento de novos Leonardo Da Vinci. Sem drama, neste caso, pois isto é, apenas, a Humanidade em permanente mutação.
*Jurista/Autor
Texto escrito de acordo com a nova ortografia