No final do mês de Maio, o presidente da Câmara Municipal da Nazaré recebeu no concelho uma comitiva do Futebol Clube do Porto. À mesa falou-se de andebol.
Na verdade, sabe o JORNAL DE LEIRIA que o assunto discutido foi a possibilidade de o actual campeão nacional fazer uma parceria com um clube da terra de forma a colocar a vila no patamar mais alto da modalidade em Portugal.
Com Walter Chicharro – que preferiu não comentar o almoço – estiveram António Borges, figura máxima da modalidade nos dragões, José Magalhães, mentor do andebol no FC Porto, além de Rui Ferreira e Hugo Laurentino, dois jogadores históricos do clube.
O primeiro dos quais exerce, de resto, as funções de adjunto de José Tomaz na selecção de Cabo Verde que participou no Taça das Nações Africanas, em Janeiro último, e que se apurou para o Mundial do próximo ano.
A estratégia que José Magalhães engendrou para o andebol dos dragões tem como base uma aposta em jovens jogadores, nacionais e estrangeiros, sobretudo cubanos e cabo-verdianos.
São atletas talentosos, com índices físicos de excelência, que depois tenta aprumar já em Portugal, com técnicos de confiança.
No plantel do FC Porto – e até na selecção nacional, já que muitos deles acabam por ser naturalizados – são esses jogadores que têm permitido o crescimento qualitativo que permite a discussão de resultados com os colossos europeus.
Portugal chegou ao sexto lugar no Europeu com Daymaro Salina, Alexis Borges e Alfredo Quintana, todos eles cubanos de origem.
Esta época, jogaram ainda pelos dragões, que ainda estavam em prova na Champions League quando a época foi cancelada em virtude da pandemia, Victor Iturriza, Yoan Balásquez e Ángel Hernández, todos eles da mesma origem.
É precisamente aqui que entra a Nazaré. Sabe o JORNAL DE LEIRIA que os portistas sentem necessidade de ter estes jovens talentos concentrados num só clube, em vez de os espalharem por vários emblemas.
Será uma forma de ter um maior controlo sobre a atmosfera em que residem e, para a vila que os poderá acolher, seria ouro sobre azul.
Na verdade, a relação de amizade de Walter Chicharro com António Borges e José Magalhães permitiu alavancar os contactos. Depois, são as próprias características do local que fazem com que seja interessante, com um bom pavilhão e hotelaria disponível a acolher esta comitiva.
Apesar de as comunicações ainda estarem numa fase embrionária, fonte próxima do processo acredita que têm tudo para correr bem.
[LER_MAIS]Se o protocolo for adiante, será uma forte hipótese de um clube do distrito de Leiria, a curto prazo, regressar ao patamar mais alto do andebol nacional, o que só por uma vez aconteceu, em 1978, por intermédio do Atlético Clube da Sismaria.
É verdade que terá de começar na 3.ª Divisão, já que há vários anos que uma equipa da Nazaré não participa nas competições seniores, mas em duas épocas poderá chegar ao topo.
Tradição
A vila tem uma muito rica história de ligação à modalidade. Nomes como Inácio Carmo, Vladimiro Pinto e Sérgio Sigismundo integraram o lote dos melhores atletas do País.
Actualmente, Tiago Figueiredo destaca-se no plantel do Boa-Hora FC, do principal escalão. O próprio presidente da Câmara foi andebolista, bem como os filhos, e, no próximo ano, a Nazaré acolherá o Mundial de sub-18 de andebol de praia e uma etapa do circuito espanhol, considerado o melhor do mundo.
Por tudo o que a modalidade faz mexer, esta possibilidade é vista com entusiasmo pelos locais. O que o FC Porto faz, por hábito, não é colocar os jogadores num local e fazê-los evoluir. Por norma, tenta também captar na localidade e até no distrito onde esta se insere, como fez recentemente com o Andebol Clube de Lamego.
Por isso, os plantéis não serão constituídos exclusivamente por jogadores do FC Porto, pelo que haverá treinos de captação nos mais diversos escalões na procura de jovens talentos. Uma oportunidade para quem acredita que tem valor, mas nunca o pôde demonstrar ao mais alto nível.