No mundo rural e pobre da minha infância, pediam-se alguns “empenhos” às pessoas mais influentes da população para resolver situações que as atormentavam e, na altura, levava-se um garrafão de azeite ou um presunto ou outra qualquer prebenda para reforçar o pedido.
A corrupção sempre fez parte da forma de vida da sociedade portuguesa, que apenas reage à corrupção dos políticos, mesmo que não tenham ainda sido julgados, devido às baixas taxas de confiança que os portugueses têm nos políticos e nos partidos.
A corrupção dos banqueiros, dos empresários, dos intermediários de negócios é desvalorizada, merecendo breves comentários nas redes sociais, ao contrário dos políticos que são alvo constante de impropérios, de ladrão para cima, mal algum jornal escreve a palavra mágica “arguido” ou em reacção a quaisquer fake news que alguém lança na Internet.
Segundo os estudos do investigador social Villaverde Cabral, Portugal é conhecido pelas baixíssimas taxas de confiança de uns nos outros e, pior, tem constatado que uma boa parte dos portugueses explica as suas eventuais dificuldades socioeconómicas atribuindo-as à «corrupção» daqueles que teriam vencido na vida…
A corrupção é algo tão tentador que até serve para explicar os êxitos que os outros tiveram, mas eles não!
É evidente que compete ao poder político legislar seriamente no sentido de combater a corrupção (que tem muitas variantes) e ao poder judicial julgar esses actos com mão pesada, dados os prejuízos que causa ao País, não só do ponto de vista financeiro, mas também reputacional.
Contudo, é preocupante que, segundo Teixeira da Mota em artigo no jornal Público, Portugal só deu seguimento a uma das quinze recomendações do Grupo dos Estados contra a Corrupção- GRECO.
Quanto às outras 14 a três delas, ignorando totalmente as outras onze»! No dia seguinte, o mesmo jornal apressava-se a noticiar que o [LER_MAIS] GRECO amaciara a sua apreciação, mas voltava a dizer, um ano e meio depois de ter mandado o primeiro recado, que as «novas leis» prometidas pelo parlamento português ainda não tinham entrado em vigor nem haviam sido promulgadas.
Também é incompreensível para o cidadão comum que os tribunais demorem anos para julgar casos de suspeita de corrupção, alguns cujo desfecho seria fundamental para minorar a desconfiança larvar dos portugueses nas instituições democráticas.
Contudo, legislar não chega. É necessário criar vínculos de lealdade com o interesse público, nomeadamente, o exemplo dos agentes políticos, da chefia e dos pares para a criação de um hábito de integridade em determinada unidade do serviço público; a capacitação dos funcionários públicos em matéria de integridade; e o tratamento legítimo dispensado pela administração aos seus funcionários.
*Economista