O pai deixou a carreira no futebol e, ao dedicar-se a um novo desporto, levou o filho com ele. Foi aos oito anos que André Lopes começou a ‘bater umas bolas’ e, desde aí, nunca mais abandonou o ténis.
A dedicação a esta modalidade levou este leiriense aos grandes palcos nacionais e internacionais no ténis: foi campeão nacional de sub-16 e sub-18, por duas vezes, venceu uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude e esteve da Taça Davis, momento que guarda “com muito carinho”.
Foi o primeiro nome made in Leiria a pisar as maiores competições nacionais de ténis, contudo, as lesões começaram a puxar-lhe o tapete debaixo dos pés.
Aos 24 anos, percebeu que o alto rendimento, enquanto atleta, já não dava mais. “Não tinha um plano estruturado. Foi quase como a única solução em função do que estava a acontecer”, conta, ao lembrar-se dos “sonhos e objectivos” que ainda queria conquistar.
Nos primeiros tempos, sentiu um “vazio grande”. “Parecia que era o sonho de uma vida e, ao deixar de existir, fiquei sem saber o que fazer”.
O malogrado futuro enquanto atleta deu lugar a uma carreira promissora de treinador. Este caminho não era o que tinha imaginado, mas já o preenche tanto (ou mais) do que quando era atleta de alto rendimento.
Hoje, aos 46 anos, podemos encontrá-lo no Rackets Sports Club Leiria, um clube já conceituado que, entre utentes e alunos, envolve cerca de 600 pessoas. Mas André Lopes ainda demorou até regressar a Leiria. “Costumo brincar e dizer que saí de Leiria aos 13 anos, para treinar em Lisboa, e nunca mais voltei, até esta fase do Rackets.”
Após terminar a carreira, aceitou o primeiro trabalho de treinador num clube em Espinho. Seguiu-se o convite para comandar a selecção nacional masculina de sub-16, um projecto que o ajudou a alavancar a carreira. Cada oportunidade abriu-lhe as portas para novos desafios. Levou o tenista Rui Machado ao mais alto nível e ao lugar 59 do ranking mundial. Com experiências também em equipas femininas, ainda esteve cinco anos no Catar antes de ‘aterrar’ em Leiria.
Há quatro anos a dirigir o Rackets, André Lopes divide também o seu tempo a acompanhar o jovem tenista Henrique Rocha. Além da formação de atletas em Leiria, mantém a quota-parte de competição. “Adoro trabalhar com miúdos e adultos quando estou no clube, mas também adoro esta parte competitiva”, reflecte.
Do atletismo ao ensino
O currículo de Vânia Silva no lançamento do martelo fala por si. Os títulos são mais que muitos e fez tudo o que uma lançadora pode fazer na carreira. Três presenças em Jogos Olímpicos, cinco campeonatos do Mundo e três Europeus, além de ter batido por 13 vezes o recorde nacional de lançamento do martelo e conquistado 21 títulos nacionais. A atleta, natural da Maceira, abriu as portas à evolução dos lançamentos em Leiria.
A carreira desportiva, contudo, começou no corta-mato, na Juventude Vidigalense. Ainda adolescente, começou a cansar-se de correr e, nessa altura, alguém lhe mostrou que o atletismo tinha “mais coisas”. Conheceu, então, o lançamento do martelo.
O talento em bruto foi polido, pelas mãos de Paulo Reis, e Vânia Silva é considerada a melhor lançadora do martelo portuguesa.
Cerca de três décadas após o início, a carreira terminou onde começou: em Leiria, no Centro Nacional de Lançamentos, rodeada de familiares e amigos, em Março de 2023.
Confessa que, nos últimos tempos, já não retirava prazer da competição, já não tinha como se superar.
Vânia Silva sempre deu importância ao ‘plano B’. “É muito importante não pensar que o atletismo vai durar a vida toda. Vai ter um ponto final e tem de haver um plano”, realça.
A paixão pelo desporto levou-a a dedicar-se ao ensino. É professora de educação física há quase 20 anos, actividade que iniciou em paralelo à alta competição.
Leiria e Ponte de Sor são algumas das cidades onde já ensinou e há dois anos que está no Agrupamento de Escolas n.º2 de Elvas.
Nos últimos anos, também descobriu o padel, modalidade onde ainda ‘mata o bichinho’ da competição.
Paixão pela formação
Foi de forma “muito natural” que Emílio Peixe começou no futebol. Era o refúgio das crianças no bairro onde vivia. Este atleta mostrou a sua qualidade nos Nazarenos e, em 86/87, foi chamado para o Sporting. Esteve em Alvalade 12 anos, com uma breve passagem por Sevilha, e ainda assinou pelo FC Porto, FC Alverca e SL Benfica, na época 2002/2003.
Pertence à mítica “geração d’ouro”, que, com a selecção nacional, conquistou o Mundial de sub-20.
Em 2004, decorreu um episódio que marcou o futebol português: a morte de Fehér. Este infortúnio contribuiu, também, para a decisão de Emílio Peixe terminar a carreira. “Decidi que queria viver, não queria que me acontecesse o mesmo.”
O corpo, conta, também já não respondia com a mesma força e foi emprestado à União de Leiria que se despediu dos relvados.
Os planos não eram muitos, contudo, um ano após este momento, foi convidado pelo Sindicato dos Jogadores para treinar, durante dois meses, um grupo de jogadores desempregados em estágio.
Foi o suficiente para acordar o bichinho e dedicar-se à sua formação enquanto treinador. “Comecei a sentir que era uma coisa interessante e próxima do que queria para mim.”
Em 2007, surgiu a oportunidade de integrar os quadros técnicos da formação da Federação Portuguesa de Futebol e, actualmente, é o seleccionador nacional dos sub-18. Em 2022, ainda viajou para o Kuwait, para comandar a selecção olímpica daquele País, e regressou a Portugal no ano passado.
A experiência com os mais jovens leva-o a afirmar que os técnicos das camadas jovens são, ainda, desvalorizados. “Os melhores treinadores são os que trabalham na formação. Têm de procurar resultados positivos e, ao mesmo tempo, formar homens e atletas”.
Olhando para trás, hoje com 52 anos, confessa que é esta a profissão que o preenche. “Acho que até gosto mais de ser treinador do que gostei de ser jogador.”
Foi também na Nazaré que Inácio Carmo cresceu e, aos 11 anos, sentiu o “amor pelo andebol” a nascer. Formou-se no Dom Fuas AC onde, mais tarde, viria a retribuir, enquanto treinador, os anos de formação e aprendizagem.
A primeira chamada à selecção nacional foi enquanto ainda estava no Sismaria e, a partir daí, surgiu o interesse dos clubes da 1.ª divisão. “Aquele sonho que acho que qualquer menino ou menina tem começou a tornar-se mais possível”, lembra.
Com a selecção nacional, fez três campeonatos da Europa e, pelos clubes onde passou, como o ABC, FC Porto, Benfica, Sporting ou FC Gaia, marcou mais de 700 golos. Celebrou, por sete vezes, a vitória na 1.ª divisão de andebol, venceu três Supertaças e duas Taças de Portugal.
“Sempre disse: enquanto achasse que era útil, iria jogar, mas quando começasse a sentir que, fisicamente, já havia coisas complicadas, iria deixar de jogar.” A carreira acabou em 2015/2016, no clube onde foi descoberto pelos grandes.
O plano inicial foi afastar-se da modalidade e abriu um negócio na área da restauração, na Nazaré. Cinco anos depois, surge um projecto para formar uma equipa sénior capaz de chegar ao patamar mais alto do andebol. Inácio Carmo ainda não tinha esquecido a modalidade e começou a sua carreira de treinador, primeiro enquanto adjunto, e agora como técnico principal da equipa.
“A paixão é a mesma, mas são formas de abordar o jogo completamente diferentes. Enquanto jogador, estamos lá para executar, mas até aparecer a estratégia de jogo, há um trabalho invisível que os treinadores têm de fazer”, assume.
Há cerca de 50 anos que o distrito não estava na 1.ª divisão de andebol. Na época passada, o Dom Fuas quebrou este hiato e vive uma época de sonho. Neste momento, os nazarenos lutam para garantir a manutenção.