Os sete apartamentos já se encontram em fase de comercialização e o edifício está quase concluído. É o destaque de 27 de Setembro no Instagram do site Archdaily, que conta com 3,7 milhões de seguidores em todo o mundo. As imagens da fachada de betão com alumínios dourados encaixada entre a Rua dos Mártires e a Avenida Papa Francisco, em Leiria, somam mais de 20 mil gostos até ao momento e dezenas de comentários elogiosos.
Com 1.369 metros quadrados em quatro pisos, o Complexo Residencial dos Mártires é o primeiro projecto de Didier Fiúza Faustino em Leiria, território que conhece bem desde a infância e onde a família tem raízes. Nascido em França, o director criativo do ateliê Bureau des Mésarchitecture, sediado em Paris e com escritório em Lisboa, move-se entre a arquitectura e as artes visuais e está representado nas colecções de instituições como o MoMA, a Fundação Calouste Gulbenkian, Serralves, o Centre Georges Pompidou, o MAXXI e o MAAT, entre outras.
A partir de Paris, Didier Fiúza Faustino mostra-se “surpreendido” por ver o Complexo Residencial dos Mártires, que combina a renovação e extensão de uma casa do início do século XX, tornar-se “viral” nas redes sociais e alcançar “uma espécie de unanimidade” através da internet, porém, acredita que se trata de “um prédio que sai do comum”, “arrojado”, com uma atitude “disruptiva”. Nos últimos meses, o edifício surge em vários sites de publicações internacionais especializadas em arquitectura.
Na perspectiva do autor, o desafio inicial prendia-se com a localização do imóvel – entre o centro histórico e uma zona da cidade muito mais recente, entre uma rua estreita e antiga e uma avenida ampla e moderna – mas, também, com as dimensões do lote, “muito pequeno”.
Por outro lado, ainda que “completamente sobre o espaço público”, a obra procura “produzir uma sensação de privacidade e de protecção”, ou seja, negoceia o conflito entre introspecção e abertura, com recurso a grandes janelas que podem fechar-se ou, pelo contrário, aceitar o exterior, como um organismo vivo, a reagir ao diálogo com a luz do sol.
Em semi-círculo, “a fachada tem um bocado esse papel, que é dizer: se eu abro completamente é porque aceito ser visto do lado de fora”, realça o arquitecto. “O apartamento transforma-se num terraço interior”.
A linguagem que Didier Fiúza Faustino descreve como “pós-brutalista”, que domina o exterior do edifício, quase inspirada, segundo o arquitecto, na agência da Caixa Geral de Depósitos da Fonte Luminosa, em Leiria, dá lugar, no interior, a uma abordagem “suave” e “doce”, em que aparece um terceiro material, a madeira. Do “inferno” para o “céu” no acesso a apartamentos “todos diferentes” uns dos outros, a misturar “comunidade”, “pluralidade” e “identidade”.
“O papel da arquitectura é oferecer novas formas de viver”, “novas hipóteses”, conclui Didier Fiúza Faustino. Em Leiria, diz observar uma cidade “a existir de novo” e elogia “o regresso do belo”, considerando “incrível” a “qualidade arquitectónica que está a surgir” no concelho.