O ‘Edifício dos Gorjões’, solar seiscentista que acolhe o salão nobre e alguns serviços da Câmara de Porto de Mós, corre o risco de perder a classifi- cação como imóvel de interesse público, devido a obras efectuadas no passado pela autarquia que fizeram “desaparecer” alguns frescos existentes no palacete.
A informação foi avançada pelo presidente da câmara, Jorge Vala, na última sessão da Assembleia Municipal, em resposta a um pedido de esclarecimentos de Rita Cerejo, da bancada do PS, sobre a nova intervenção que a autarquia pretende fazer no imóvel.
Segundo Jorge Vala, a empreitada de requalificação, orçada em 240 mil euros, sofreu um atraso devido à demora no parecer da Direcção Regional de Cultura do Centro, que, entretanto, chegou e que recomenda que, face à “profunda descaracterização” que o edifício sofreu na sequência da intervenção feita em 1997, haja lugar a um “eventual processo de desclassificação”.
Reconhecendo que, neste momento, “não há nada a fazer” em relação aos elementos patrimoniais que se perderam, o presidente da câmara garante a salvaguarda da escadaria interior, elemento original da construção seiscentista e no qual “não será mexido” no âmbito da intervenção agora projectada.
Os trabalhos incluirão obras nas casas de banho, substituição de janelas, reparação do telhado, instalação de um elevador e a criação de um open space para instalar os serviços de acção social do município.
Localizada no Largo de São João, a Casa da Família Gorjão, também conhecida como o Edifício dos Gorjões, remonta ao século XVII, tendo sido “totalmente” remodelada nos séculos XIX e XX.
Já no final do milénio, o município adquiriu o imóvel e promoveu a sua requalificação e adaptação para acolher serviços autárquicos, bem como a sua classificação como imóvel de interesse público, publicada em Diário da República em 1997, uma distinção que pode agora cair por terra.
Na intervenção que fez, Rita Cerejo questionou ainda o executivo sobre a situação do arquivo municipal, recordando que o projecto da Central das Artes previa a sua transferência para o local, que está agora a ser provisoriamente ocupado com outros serviços municipais.
Em resposta, Jorge Vala garantiu que o arquivo já está a ser transferido para a Central das Artes, “à medida que é tratado”, uma tarefa complicada dado o estado “lastimável” em que se encontra algum do acervo que esteve “dezenas de anos a apanhar humidade” nas antigas oficinas da câmara.