Quis o destino que, 15 anos depois de ter um enfarte do miocárdio que me reteve quase uma semana num hospital público, então de boa referência, eu tivesse que ser de novo internado por igual período, também por um problema de natureza cardíaca.
Desta vez, não recorri à balbúrdia que vai pelo SNS, mas acolhi-me num hospital (semipúblico) em Lisboa. É justo dizer que fui tratado com um cuidado e uma abnegação tais, que me apraz registar. Só vivendo situações destas é que se pode avaliar o mérito de médicos, enfermeiros, paramédicos e outras pessoas da mesma área profissional.
Regressado a casa, num olhar pelos jornais atrasados, abro ao acaso a Revista do Expresso de 16 de Março, onde Clara F. Alves na Pluma Caprichosa, escreve um artigo intitulado “Quanto custa um enfermeiro”?
Do contexto conclui-se que a pergunta podia ser também quanto custa um médico ou qualquer outro profissional qualificado do sector da saúde”. E escreve com conhecimento de causa porque viveu um internamento nos cuidados intensivos do S. José. Com a devida vénia transcrevo algumas palavras do seu oportuno e excelente artigo.
“Os enfermeiros não descansam um segundo. Há que prodigalizar tratamentos, acudir aos gritos e convulsões, aturar a má-criação de doentes e familiares, aturar a hierarquia, manter a máquina a funcionar, cooperar com os médicos, eles mesmos sujeitos a imenso stresse, e tocar nos doentes (…). Mais que uma profissão, a enfermagem é, como a medicina, uma vocação (…). Estes, (os enfermeiros e os médicos) não são funcionários públicos iguais aos outros, nem a sua profissão deve ser avaliada do mesmo modo e pela mesma bitola remuneratória”.
Ora, era aqui que eu queria chegar, ao escrever [LER_MAIS] o título deste texto.
Por um lado, há mais simpatia (no mínimo tolerância) pelas greves dos enfermeiros do que, por exemplo, pelas greves (orquestradas?) dos professores e de outros sectores acomodados do funcionalismo público, tanto central como local. E isso resulta da avaliação pública de cada segmento profissional.
Os enfermeiros de hoje são pessoas que estudam em escolas superiores e que fazem licenciaturas e mestrados de Bolonha e estágios que muito os valorizam. Não encontrando no país níveis de remuneração compatíveis com a sua formação académica e outras, muitos deles emigram, agravando a falta de enfermeiros, pelo menos no SNS.
Além disso, os que não podem ou não querem emigrar procuram refúgio no sector de saúde privado, onde também são explorados, embora menos.
Um enfermeiro, tal como um médico, leva para casa menos dinheiro do que um amanuense de uma qualquer “chafarica” pública. Se tudo continuar assim, qualquer dia o SNS está de rastos.
No SNS, incluindo a cúpula, hospitais centrais e regionais, centros de saúde etc., há a chamada “hierarquia”, de grande dependência partidária, e com “cursos” tirados por correspondência ou lá o que seja. Não se queixam do que ganham…mas não tratam doentes.
Nota final: a anunciada recusa pelo H.S. André das urgências do concelho de Ourém é um crime de lesaregião. Ourém sempre esteve ligada a Leiria e assim tem que continuar. Em tudo.
*Economista