Nunca se assumiu como uma tradição em Leiria, embora na história do concelho conste a existência de algumas equipas seniores de voleibol, há dezenas de anos. O mesmo não se pode dizer da formação, que “nunca foi uma realidade em Leiria”. Pelo menos até há cerca de um ano, quando o leiriense Pedro Santos, antigo voleibolista, foi desafiado por pais a iniciar um projecto que permitisse às crianças e jovens do concelho acederem à modalidade sem precisarem de se deslocar à Marinha Grande.
“Fui atleta durante 25 anos e sempre tive vontade que este retomar da modalidade em Leiria acontecesse. O término da minha carreira desportiva, aliado ao desafio dos pais, levou a que, há cerca de um ano, começássemos a reunir alguns atletas”, explica Pedro Santos, que contou com o apoio do GRAP – Grupo Recreativo Amigos da Paz, dos Pousos, e do município.
Com apenas três telefonemas, foi possível ter 15 atletas logo no primeiro treino. E apesar de não ter havido competição durante a primeira época, o clube encerrou a temporada com 40 atletas. Hoje são já cerca de 100 atletas, a partir dos 8 anos: 70 atletas nos escalões de minis (mistos), iniciados (feminino) e cadetes (feminino), que esta época já estarão em competição, e 30 num escalão sub-18 (misto), que não terá competição.
“Estes números são surpreendentes e demonstram que era uma necessidade em Leiria e que as nossas crianças e jovens tinham curiosidade em praticar”, afirma o treinador, reconhecendo ser “um alívio para muitos pais que tinham de levar os filhos aos treinos na Marinha Grande”.
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O clube conta actualmente com quatro treinadores, um número “reduzido” face ao crescimento dos atletas. “Temos um treinador por cada 25 atletas, o que é pouco. Estes atletas estão numa fase inicial da formação e requerem mais atenção. Não havendo tradição na cidade no que respeita ao voleibol, também é difícil conseguirmos encontrar treinadores”, revela.
Pedro Santos admite que o projecto está a registar um “crescimento demasiado rápido para as condições existentes”, ainda assim, não fecha as portas a novos interessados. “Apesar das limitações, estamos abertos a receber todos os que pretendam experimentar a modalidade. Até porque o nosso propósito é mesmo esse: expandir o voleibol e criar uma tradição no concelho”, afirma o treinador, enaltecendo o “apoio do GRAP e do seu presidente, que logo na primeira abordagem, respondeu positivamente ao desafio”.
Os treinos realizam-se na Escola Correia Mateus, no Colégio Conciliar Maria Imaculada (CCMI) e no Pavilhão Municipal dos Pousos.
Jovens atletas enaltecem criação do projecto
Dos cerca de 100 atletas de voleibol do GRAP, 85% são do sexo feminino e 15% do sexo masculino. “É uma grande diferença. Talvez pela ausência de contacto físico, acabe por tornar-se uma modalidade mais atractiva às raparigas”, refere Pedro Santos.
Uma das pioneiras foi Catarina Madeira, que marcou presença logo no primeiro treino do GRAP, desafiada por uma amiga. O gosto foi tanto que ainda hoje continua.
“Cheguei a jogar voleibol nas aulas de educação física e na praia com o meu pai. É uma modalidade que sempre gostei, mas que nunca tinha ponderado praticar de forma mais ‘séria’, porque as únicas opções que tinha eram longe”, revela a leiriense.
Para a jovem de 14 anos, foi “muito importante ter aparecido um clube em Leiria”, tratando-se de um projecto “com todas as condições para captar cada vez mais atletas”.
Inscrita no escalão de cadetes femininas, que este ano conta já com competição, Catarina revela ser uma “sensação muito boa” ter a oportunidade de competir e de “contactar e aprender com as outras equipas”.
Também Rodrigo Antunes, de 14 anos, ganhou o gosto pelo voleibol na escola. A vontade de aprender mais sobre a modalidade e de melhorar a técnica levou-o, em conjunto com cinco amigos, a procurarem um local para treinarem, há cerca de um ano. No GRAP, encontraram a oportunidade ideal.
Tem treinado sempre em equipas mistas e, há cerca de um mês, foi até à Marinha Grande para uma nova experiência. No entanto, a distância fê-lo regressar aos Pousos. “Tenho pena de não haver ainda equipa de cadetes masculinos no GRAP. Treinamos num grupo misto, e para já ainda não temos competição. No entanto, estou a aguardar que apareçam mais rapazes da minha idade, para ter essa possibilidade de termos cadetes masculinos e competirmos.”
Natural e residente na Batalha, é em Leiria que tem frequentado a escola, tendo iniciado este ano o ensino secundário. A mudança de escola levou-o a desafiar os novos colegas. “Tenho-lhes dito para experimentarem, porque é uma modalidade muito dinâmica. É muito bom praticar desporto e, no fundo, convivermos”, conclui.
Mas não são apenas as crianças e jovens que têm a oportunidade de praticar voleibol no GRAP, já que este mês de Novembro terá início um grupo informal de masters, para a realização de jogos amigáveis todas as sextas-feiras, com o objectivo de promover o convívio, onde podem participar antigos atletas masculinos com mais de 35 anos.