“Desde a era digital que a fotografia (como conhecida tradicionalmente) tem morte anunciada”, diz Bruno José Silva, que na exposição limit of disappearance convida o público “a tornar-se parte de um pensamento sobre o desaparecimento e a efemeridade, sobre o que significa, de facto, ‘ver’”.
A partir de sábado, 9 de Abril, os visitantes do Banco das Artes Galeria (BAG) são colocados perante a possibilidade de contribuírem para a modificação e degradação do conteúdo exposto – é obrigatório assinar uma declaração à entrada, mas, se alguma vez a alguém apeteceu destruir a obra de arte, esta é a oportunidade.
“A virtualização e desmaterialização acontecem in loco, sob o olhar atento do espectador”, que ocupa um “lugar de acção”, explica o autor. “A experiência da exposição implica a tomada de decisões e a convivência com o impacto da acção”.
Actualmente a residir entre Lisboa e Leiria, Bruno José Silva expõe pela primeira vez na cidade onde nasceu em 1992. Formado em arquitectura e em fotografia, tem procurado, enquanto artista visual, questionar o estatuto da imagem, a sua utilização e os mecanismos da sua produção, através da instalação, do vídeo, da fotografia e dos novos media. É colaborador da companhia de teatro Plataforma 285 (cenografia e fotografia) e no ano passado foi finalista do Concurso Nacional de Jovens Criadores do IPDJ, além de vencedor da categoria vídeo do prémio Keep It Brian organizado pela consultora Balaclava Noir.
Desenvolvida ao longo de um ano, também durante residências artísticas no espaço Serra (na Reixida, Leiria) e no centro de experimentação artística Casa Varela (em Pombal), a exposição limit of disappearance é inaugurada pelas 16 horas do próximo sábado e vai ocupar o Project Room do Banco das Artes até 29 de Maio.
Bruno José Silva trabalha com imagens compostas por algoritmos – impulsionadas pela ideia de que o que é gerado pela máquina “não é destinado ao olho humano” – e, em simultâneo, utiliza mecanismos que recorrem à robótica para dificultar ou mesmo impossibilitar a visualização. Em vez de auxiliar, a tecnologia faz o contrário, o que alimenta o conceito de exposição com um limite de visualizações disponível. Cada visitante altera o conteúdo exposto e torna diferente a experiência do visitante seguinte.
“É preciso voltarmos a querer ver as coisas”, comenta ao JORNAL DE LEIRIA, num momento em que o processo de virtualização baseado no modelo informático transforma o mundo natural em bits, nos ecrãs. “A nossa experiência muda, tornamo-nos espectadores apáticos”.
O projecto surge da reflexão acerca de uma possível crise das imagens e da morte da fotografia como conhecida tradicionalmente para avaliar “o impacto deste novo modelo imagético como provocação para outras mortes anunciadas”, completa Bruno José Silva. O objectivo é uma análise multi-sensorial que pesquisa “a mutabilidade da imagem e o seu potencial de fractura, degradação e desaparecimento”.
Depois de Leiria, limit of disappearance segue para a Galeria Municipal Paços em Torres Vedras (de 25 de Junho a 6 de Agosto) e para a Casa Varela em Pombal (entre 12 de Agosto e 12 de Setembro).