A vontade de “dar um novo rumo à vida” e o desejo de voltar a ter uma experiência fora de Portugal levaram Nuno Marrazes a rumar a Timor-Leste. É aí que, desde 2015, o jurista, natural da Marinha Grande, trabalha numa sociedade de advogados e dinamiza, juntamente com a companheira, um grupo de aprendizagem para as crianças do seu bairro.
Nuno Marrazes, 35 anos, conta que, desde há algum tempo, ia ganhando força a ideia de voltar a sair de Portugal. “Já tinha vivido uma experiência inesquecível durante o ano que passei a estudar em Itália, ao abrigo do programa Erasmus. Isso contribuiu bastante para querer ter novamente uma experiência no estrangeiro”, refere.
A oportunidade surgiu em 2015, quando uma empresa de recrutamento de advogados lhe apresentou um projecto de uma sociedade timorense “em expansão”, que pretendia recrutar um jurista português. Fizeram-lhe uma proposta de trabalho “muito interessante”, que Nuno aceitou, integrando, desde então, os quadros da Sociedade Da Silva Teixeira & Associados.
Chegado a Timor, cedo percebeu que a sua missão podia ir mais além. [LER_MAIS] “A população de Timor-Leste é das mais jovens do mundo. Em cada bairro há dezenas e dezenas de crianças. Eu e a minha companheira sentíamos que podíamos criar um grupo de aprendizagem para os meninos do nosso bairro, partilhando experiências e dando-lhes estímulos que não recebem na escola”, conta o advogado.
Foi, assim, que nasceu o projecto Sai boot Hamutuk (que, em português, significa Crescemos Juntos), que funciona como “um grupo de aprendizagem e socialização” que Nuno Marrazes e a companheira dinamizam com as crianças de um bairro da Aldeia Metin II, que pertence ao posto administrativo de Dom Aleixo, no Município de Díli.
O grupo reúne-se uma vez por semana, em sessões onde são abordados temas relacionados, por exemplo, com saúde pública, educação ambiental, cidadania, desporto ou música. “Muitas vezes, temos convidados para partilharem as suas experiências com as crianças. Não temos apoio de ninguém. É um projecto 100% nosso”, explica Nuno Marrazes.
Através desta iniciativa, os promotores pretendem “promover a socialização das crianças do bairro, de modo a que cada criança, em comunhão com as restantes, possa desenvolver a sua capacidade de raciocínio, a sua criatividade e o seu sentido crítico, através dos conhecimentos transmitidos e da troca de ideias, munindo-se assim de ferramentas úteis para enfrentar e solucionar problemas do seu dia-a-dia”, pode ler-se na página oficial do projecto no facebook.
Embora reconheça que Portugal – “e em particular a região de Leiria” – “é um lugar óptimo para viver”, Nuno Marrazes diz que, para já, regressar não está nos seus planos. “A minha experiência em Timor tem sido muito positiva”, confessa Nuno Marrazes, que revela ter “uma grande admiração” pelo povo timorense.
“O que mais me tem surpreendido em Timor é o optimismo dos timorenses perante enormes adversidades e a alegria com vivem com tão pouco. É, sem dúvida, um enorme contraste com a nossa realidade, em que muitas pessoas vivem de mal com a vida mesmo quando até têm algum conforto”.