Os fundadores das empresas familiares têm de saber mudar e adaptar-se para abrir caminho a eventuais alterações no negócio por parte da segunda geração, que deve poder “seguir a sua paixão”, conclui um estudo da PricewaterhouseCoopers apresentado na semana passada.
Intitulado A importância das empresas familiares na economia. A mesma paixão, diferentes caminhos, o trabalho foi realizado pela PwC em 21 países, incluindo Portugal, e explora os diferentes caminhos que os membros das gerações mais novas estão a seguir na busca pela sua paixão e na construção de carreiras de sucesso, dentro e fora das empresas familiares, refere o Diário de Notícias.
Sustentando que “o actual cenário, em constante mudança, está a criar tantas oportunidades de sucesso como desafios” à gestão das empresas familiares (aquelas em que uma família detém o controlo, em termos de gestão, e em que alguns dos seus membros participam e trabalham), a PwC nota que muitas destas empresas “dispõem de programas sofisticados de formação e experiência profissional para os seus membros da próxima geração”, mas frisa serem “poucas as que reconhecem que o desenvolvimento desta geração tem de ser acompanhado por uma mudança e uma adaptação em paralelo pela empresa”.
Ou seja, a geração que está actualmente a gerir as empresas familiares “tem de mudar e se adaptar, quer para criar possibilidades de mudança no negócio quer para a próxima geração ter a liberdade de escolher o caminho que melhor se adequa ao seu futuro”, aponta o estudo, que frisa igualmente que ambas as gerações “têm de chegar a um entendimento sobre o que significa o sucesso, do ponto de vista do negócio e da família”.
“Tem havido mudança, mas continua a haver da parte das gerações fundadoras alguma relutância em aceitar novas ideias dos filhos, por entenderem que algo pode falhar. Os jovens são mais propensos a arriscar, a novas formas de produzir, à automatização, o que é difícil de aceitar pelos empresários de 60 anos ou mais”, disse ao JORNAL DE LEIRIA Inês Lisboa.
A investigadora do Observatório das Empresas Familiares, integrado no globADVANTAGE – Center of Research on International Business & Strategy, do Instituto Politécnico de Leiria adianta que há já fundadores que “se colocam em plano secundário para os filhos decidirem, mas não são a maioria”.
“Tem a ver com cultura, com o facto de o fundador ter criado o negócio de raiz, e de achar que afastar-se pode significar que já não tem valor”. Por outro lado, nota Inês Lisboa, muitos dos fundadores “dedicaram tanto tempo à empresa, durante tantos anos, que quando chega a hora de se afastarem não têm outros interesses, nem hobbies, o que também torna difícil desligarem-se do negócio”.
Na maioria das empresas a sucessão faz-se com a entrada dos filhos, que até “tomam algumas decisões, mas os pais normalmente também estão e têm as suas opiniões. E os filhos têm dificuldade em contrariar os pais”, aponta a investigadora. Dos estudos que fez, concluiu que “enquanto os pais estão na empresa, os filhos não têm poder de decisão sozinhos. Isso só acontece depois de muitos anos de experiência”.
Criada há 24 anos por Jaime Grosso, a Gosimat, especializada no fabrico e comercialização de caixilhos, portas em madeira e sistemas para portas de correr, entre outros produtos para construção e decoração, é uma das muitas empresas familiares que compõem o tecido empresarial do distrito de Leiria. Neste momento, os dois filhos já integram a empresa: Jaime Filipe entrou há 12 anos, Diogo há cinco.
[LER_MAIS] Jaime Grosso garante que não teve problemas em aceitar as ideias e visões dos filhos. “Sou adaptável e muito flexível”, afirma. “Preciso deles para aquilo que eles sabem mais, mas eles precisam de mim para aquilo que eu sei mais, porque os meus 61 anos me conferem muita experiência”, explica, adiantando que as duas gerações se complementam.
Na empresa de Leiria, as decisões do dia-a-dia são tomadas por cada um na sua área, mas são depois partilhadas. As grandes decisões – investimentos, novos produtos, mudança de estratégia – são tomadas em conjunto. “Não tomamos algumas decisões sozinhos porque não temos experiência em algumas matérias. Dependendo do nível de decisão, sentimos necessidade de consultar, de pedir apoio [ao pai] para tomar a decisão”, reconhece Jaime Filipe.
Depois da entrada do jovem na empresa, há 12 anos, a Gosimat mudou? “Sim, e faz todo o sentido que assim seja”, considera o fundador. “Na altura a empresa era mais pequena. A minha chegada permitiu desenvolver novas áreas e lançar novos produtos”, acrescenta o filho. Isso continuou com a entrada do irmão Diogo. “Agora somos mais dois a dar ideias e a apoiar na gestão”.
Todas as ideias dos mais novos são aceites? “Por vezes há ideias que damos e que não são muito ponderadas. Em conjunto [com o pai] pega-se nelas e surge algo melhor”, dizem os irmãos, que adiantam que nunca houve realmente entrave às suas sugestões.