Quando o País se prepara para festejar o 25 de Abril, o JORNAL DE LEIRIA foi conhecer empresas nascidas em 1974, que têm especial motivo para celebrar. A sua resiliência tem-lhes permitido continuar, ano após ano, apesar das crises cíclicas que têm afectado a economia e da abertura a um mercado global, pautado por uma acérrima concorrência.
Leonel Morgado, responsável pela Construções Morgado, lembra que a empresa, sediada em Meirinhas (Pombal), foi fundada em 1974, pelo pai, Joaquim Morgado. Designava-se então Morgado e Marques. De início, a actividade centrava- se na construção civil, mas a compra e venda de propriedades, e o arrendamento, também representam hoje uma fatia significativa do negócio.
Quando foi criada, a empresa tinha “quatro ou cinco” colaboradores. Hoje são dez, além da grande estrutura que funciona por subcontratação. Ao longo deste percurso, a empresa sentiu o impacto de várias crises. “Nos anos 80, disparou a inflação em Portugal e ultrapassou os 30%. O negócio travou, porque as pessoas não tinham carteira para comprar.”
“Quando o Fundo Monetário Internacional chega a Portugal, durante [LER_MAIS]um governo de Mário Soares, nem havia dinheiro para fazer empréstimos. Tínhamos obras vendidas, mas paradas dois anos, porque as pessoas até podiam ter crédito concedido, mas não havia dinheiro”, refere Leonel Morgado. Dura foi também a crise dos anos 90.
Mas o sector “animou” depois de o Estado ter criado uma linha de crédito com juros bonificados. O empresário lembra ainda tempos difíceis para a construção, desencadeados com a crise do subprime, em 2008, e refere os tempos actuais, também adversos, que têm levado a “grande subida de preços”.
“O sector da construção funciona por ciclos” e, para se manter no mercado, uma empresa tem de ser “resiliente”, verifica o responsável. A operar exclusivamente em Portugal, a estratégia desta casa passa por procurar zonas geográficas diferentes. Foi por isso que desde há vários anos começou a trabalhar sobretudo na Figueira da Foz.
A Liscortes, de Leiria, foi fundada em Agosto de 1974, especifica Fernando Pinto, que lidera a empresa criada pelo pai, também chamado Fernando Pinto, já falecido. Inicialmente, dedicava-se à produção de mobiliário de escritório. Com a integração de Fernando Pinto (filho), que tinha experiência no ramo das construções, a Liscortes especializou-se no sector metalomecânico, prestando serviços de concepção, fabrico e montagem de estruturas metálicas para a indústria. São hoje 26 os colaboradores desta empresa, que trabalha para o mercado nacional (90%) e externo (10%).
Fernando Pinto era criança quando a Liscortes dava os seus primeiros passos, mas recorda-se das adversidades que o pai partilhava. “Havia dificuldades com os bancos. Não havia dinheiro. No final do mês, esperava horas na fila para ter dinheiro para poder pagar aos funcionários.” A construção é pautada por “ciclos, de altos e baixos”, sendo que “os ciclos são cada vez mais pequenos. Se há uma crise, hoje mais facilmente somos arrastados, porque a economia é global”, reflecte o empresário, lembrando factores externos como uma crise financeira, uma guerra ou uma pandemia.
Para vencer é preciso “resiliência” e “estar atento às novas tecnologias, de forma a continuarmos competitivos”.
Concorrência global
Gil Silva é gerente da Lebasi, da Benedita (Alcobaça), que se dedica à produção de cintos e carteiras. Foi criada em 1974, ainda antes da revolução, pelo seu pai e pelo seu tio. À época, denominava-se Abel da Silva Isabel e Irmão Lda. Sempre foi um negócio familiar. “Quando saía da escola vinha ajudar”, recorda o gerente.
“Nos armazéns vendia-se melhor do que agora. De Janeiro a Maio havia quebra, mas daí em diante trabalhava-se bem. E aproveitavam-se os meses parados para fazer stock. Actualmente, esse sistema não funciona, porque as modas mudam rapidamente”, sublinha o responsável.
A concorrência dos artigos chineses também teve impactos no negócio. A Lebasi chegou a empregar cerca de 20 pessoas, a exportar, mas a partir do ano 2000 a actividade diminuiu, assim como o número de colaboradores. Mesmo assim, o mercado continua a reconhecer o valor dos seus produtos, muitos deles comprados por grupos que os exportam para diferentes pontos do mundo.
Altamente exportadora e composta por uma equipa de cerca de 30 pessoas, a fabricante de iluminação decorativa Lustrarte deu os primeiros passos em Maio de 1974. Foi fundada pelos pais de Ana Faria, que hoje lidera a unidade. Operava inicialmente em nome do seu pai, José Leonel de Jesus Faria, na Maceira-Lis, e dedicava-se exclusivamente ao mercado nacional.
A empresa mudou-se para a Marinha Grande e foi liderada por José Faria até ao seu falecimento, em 1998, quando “já marcava presença em diversos mercados internacionais, vivendo então um dos seus melhores períodos”. Os anos seguintes foram marcados por um “tortuoso e conturbado processo de sucessão, que mergulhou a empresa numa crise profunda”, nota Ana Faria.
“Já no início deste século, com a empresa bastante fragilizada e depois de muitos sacrifícios pessoais e familiares, acabei por assumir a liderança. E desde então, temos vindo a vencer os exigentes desafios que têm marcado todo o nosso percurso”, expõe a empresária, exemplificando com a crise financeira de 2008, a crise do petróleo de 2014, a pandemia e a mais recente crise da energia e das matérias-primas.
“A vida de um gestor de uma empresa industrial, nos dias que correm, não é mesmo nada fácil, mas a nossa equipa luta diariamente pelo seu futuro e realização, sempre motivada e unida contra todas as adversidades. É assim, como a própria democracia”, entende Ana Faria.