Rezar, assistir aos noticiários e contar as horas para voltar a Lviv. Tem sido esta a rotina de Myron Andrusyshyr, de 61 anos, e da esposa, Nadiia Matviiv, de 59, desde que chegaram à Marinha Grande na semana passada.
Nesta cidade, o casal de ucranianos encontrou segurança na casa da filha Nataliya. No entanto, estão longe de poder respirar de alívio. Para trás, Myron e Nadiia deixaram o filho Pavlo, de 36 anos, que não teve alternativa se não ficar para combater.
Com eles, trouxeram os netos. Marta, de 14 anos, e o pequeno Myron, de 9, que partilham dias de aflição por saberem que o pai está próximo do cenário de guerra, com bombas a causar destruição e mortes a uns escassos 50 quilómetros.[LER_MAIS]
Myron Andrusyshyr, professor de música, tinha vivido vários anos em Portugal, onde, como operário fabril, tinha conseguido amealhar algum dinheiro. Actualmente, já tinha regressado a Lviv e com a esposa, professora de Ucraniano, aguardava com tranquilidade os poucos anos que faltavam para saborear a reforma. Não fazia ideia que a guerra estalasse de facto. Mas o pior aconteceu.
À pressa, o casal fez as malas com o que conseguiu. Fecharam a casa, que não sabem como voltarão a encontrar, podendo ser arrasada pelas bombas ou simplesmente pilhada. Com os netos e o cão, apanharam um autocarro em direcção à fronteira com a Polónia. Não foi fácil sair da Ucrânia, explicam. No local, estava a ser dada prioridade às mulheres e às crianças que tivessem chegado a pé. Esperaram numa fila durante 30 horas até conseguirem passar para solo polaco.
Desse lado, esperava-os o genro, que saiu da Marinha Grande e cruzou vários países para os resgatar.
Na zona onde ficou Pavlo ainda vai havendo rede suficiente para se comunicar por telemóvel com a família, mas isso não chega para acalmar ninguém. Marta até gostava de visitar Portugal, onde já tinha feito algumas amizades. Só que isso deixou de ser importante. Agora só quer o pai de volta.
Mais revoltado está o pequeno Myron, que não fala de todo Português e não entende a razão da guerra nem da viagem para um país longínquo.
“Quero a minha terra, a minha casa”, diz Nadiia. “Só queremos que isto acabe rápido”, acrescenta o marido. Embora acredite que o povo russo é instigado a combater, através da informação falsa que Putin lhe oferece, o casal de ucranianos mantém algum optimismo.
“Temos muitos países que nos dão apoio e Putin não sabe a resistência que temos. Vai perder a força. Até porque muitos soldados deles não querem matar os nossos”, realçam Myron, Nadiia e a filha Nataliya.
O carinho sentido da parte dos portugueses também lhes tem dado algum conforto.
Enquanto se espera pelo fim do conflito, é preciso encarar o presente com sentido prático. Recorre-se à Segurança Social para perceber que apoio existe e há que deitar contas ao magro orçamento familiar numa casa que, de um casal com um filho, passou a acolher quatro adultos e três crianças.