Como está o seu conhecimento das “armas e barões assinalado que da Oriental praia lusitana” deram mundos ao mundo?
O Encontro de Teatro de Pombal começa hoje, dia dia 12, e decorre até 14, domingo, sob a batuta do Teatro Amador de Pombal (TAP), entidade que organiza o evento.
Este ano, a cidade do Marquês recebe Ángel Fragua e a sua peça Stand Down e o Teatro Experimental da Camacha, que chega da Madeira, com a produção Era a Ilha. O encerramento caberá ao TAP, com o seu texto original Lusíadas?.
O director do TAP, Humberto Pinto, sublinha que não se trata de um intercâmbio entre grupos de artes cénicas. É, afirma, algo mais profundo e enriquecedor. "É um exercício de partilha com os outros grupos que vamos conhecendo, quando partilhamos palcos e espectáculos, e com cujo trabalho nos identificamos. É uma aposta na qualidade", diz.
O cenário montado é de uma verdadeira residência artística e, nesta quinta edição do evento, os grupos presentes até são amadores, mas, em anos anteriores, o Teatro-cine de Pombal tem acolhido companhias profissionais, no seu palco.
Embora o TAP não faça uma ligação directa, estas sessões funcionam como se fossem uma “volta de aquecimento” para o Festival de Teatro de Pombal que acontece em Março, com o objectivo de afinar alguns processos e colocar a equipa em diálogo.
Se stand up é humor, o que será stand down?
Para dia 12, estava marcada a presença do Ajidanha, teatro de Idanha-a-Nova com quem o TAP tem concretizado vários projectos em conjunto, contudo, a companhia de teatro que tem embarcado em projectos conjuntos com o TAP viu-se forçada a cancelar a presença e já não irá apresentar um peça criada a partir do Diário de Anne Frank.
O lugar vago foi ocupado por Ángel Fragua, um dos actores da Peripécia Teatro. Riso, vida, vinho, portunhol, encontros, amigos, tortilla, amor, morte, palhaço e poesia são algumas das ideias subjacentes ao espectáculo de Stand down, que o espanhol apresentará em Pombal, na sexta-feira, pelas 21:30 horas.
Em palco, Ángel Fragua falará das memórias de um homem, as reais e as outras, as lembranças de infância com os olhos de agora e os primeiros silêncios. “Para o resto da semana inventei um palhaço. Levava um nariz, um penico na cabeça, umas jardineiras e uma mala onde guardava uns cartazes, pensamentos como os das bandas desenhadas que diziam: estou sozinho, estou perdido, sim, não, não sei…”, refere o actor acerca de Stand down.
Partindo de dois contos de Félix Albo, Secretos de Familia e Un Roble en un Cementerio, Ángel ensina-nos por que razão morrer de amor pode ser só o início de uma história. O actor apresenta-se a solo, sem grandes recursos cénicos, num espectáculo onde a palavra assume importância, e onde as experiências pessoais se cruzam com as de outrem, que não está em palco.
Visita à ilha da Madeira, sem sair de Pombal
Já o Teatro Experimental da Camacha (TEC) apresenta-se em Pombal após o TAP ter ido à Madeira, onde presenciou o trabalho do grupo.
A peça que será apresentada no Teatro-cine, chama-se Era a Ilha e é uma verdadeira visita à "pérola do Atlântico", sem sair de Portugal continental.
"O texto tem muitas palavras em 'madeirense', mas o público não tem com que se preocupar, pois o grupo distribui um pequeno glossário, no início de cada espectáculo, para ajudar à tradução", refere o responsável pelo colectivo anfitrião.
Vinho da Madeira, bolo do caco, bailinho da Madeira e uma miríade de outras tradições e curiosidades fazem parte deste espectáculo com sotaque… madeirense, é claro.
E ainda traz um bónus a quem for ao teatro, no primeiro dia do evento, no final, a companhia tem por hábito partilhar bolo de mel e vinho da Madeira com os espectadores e assim, além do alimento para a mente, também o corpo ficará saciado, com esta ceia tradicional.
"Quem sabe, pode ser que também tragam poncha", brinca Humberto Pinto. O TEC apresenta-se com encenação de Zé Ferreira e interpretações de Paulo Renato, Filipa Mota, Natércia Teixeira e Carina Teixeira. Para ver e saborear no dia 13, à partir das 21:30 horas.
Lusíadas? uma epopeia nada épica
Por fim, o TAP, encerra o Encontro de Teatro, no dia 14, às 17 horas, com a sua peça original Lusíadas?, um espectáculo sobre Portugal e a portugalidade, a partir de um texto "vagamente, muito vagamente" influenciado pel’Os Lusíadas, de Camões.
O texto destina-se a crianças e adultos e traça um retrato da história do nosso País, com muitas interrogações sobre os grandes episódios da história das gentes lusas e humor à mistura.
"Brincamos com Os Lusíadas. Contamos pequenos episódios de todos os Cantos, entre os mais marcantes e conhecidos dessa obra, de uma forma divertida." Dois narradores, que [LER_MAIS] também tomam parte da peça, contam as peripécias do povo luso ao longo dos séculos, enquanto outros cinco actores, em palco, ajudam a reviver os episódios.
Na narrativa do TAP, não faltam os amores proibidos de D. Inês de Castro e D. Pedro. "Eles amam-se, ela fica grávida e depois morre. A piada surge dos vários avisos que os narradores lançam para o público: 'não se preocupem, que isto é uma história de amor. É a mais bonita história de amor de Portugal'.
Depois vem aquela parte em que D. Pedro se vinga da morte da amada, manda executar os seus assassinos e nós repetimos: 'não se preocupem, que isto é uma história de amor muito bonita'."
Entretanto, apresenta-se o Adamastor, que vivia num rochedo e cuja graça está toda no teatro físico à volta da personagem. O TAP nem sequer leva a Ilha dos Amores ao prévio lápis azul.
"Quer dizer, fazemos uma censura muito suavezinha. Anunciamos: 'agora é que vem a melhor parte'", diz Humberto Pinto, com um sorriso rasgado, adiantando, em tom mais sério, que esta peça de cariz histórico e ambiente de epopeia segue o rumo de trabalhos anteriores, como As Viagens de Gulliver, Ulisses ou Romeu e Julieta.
O modo descontraído como os actores abordam Os Lusíadas levou a que docentes das escolas da cidade desafiassem os alunos a irem ver a versão do TAP, antes de iniciar o estudo da obra maior de Luís Vaz de Camões.
A encenação é de Luís Catarro, com assistência de Joana Ferreira, e conta com as interpretações de Carla Ribeiro, Daniela Gaspar, Gabriel Bonifácio, Humberto Pinto, Patrícia Rolo, Patrícia Valente e Paulo Rodrigues.
O Encontro de Teatro de Pombal é uma organização do Teatro Amador de Pombal, que conta com o apoio do Município de Pombal, Junta de Freguesia de Pombal e INATEL, que se realiza no Teatro-cine e os bilhetes custam dois euros.
Curta de Teatro
O Teatro Amador de Pombal (TAP) está a realizar a edição deste ano da sua Oficina de Teatro. Esta é a segunda vez que o grupo organiza esta acção de formação, para pessoas com e sem experiência de palco, após, no ano passado o ter feito sob o tema Viagens.
Em 2018, o lema será Gentes. Este ano, a carga horária aumentou para as 35 horas e há mais formadores. Entre os orientadores, há antigos actores que passaram pelo TAP.
São eles Igor Lebreaud que, neste momento, está ligado à Escola da Noite, Miguel Sopas, que pertence aos quadros do Teatro Nacional D. Maria II, onde participa na peça Rei Lear, Tiago Poiares, da ESTE, do Fundão, e Filipe Eusébio, que também é actor da Escola da Noite.
Em palco, os candidatos a actores vão aprender a deslocar-se pelo espaço cénico e a marcar presença em frente ao público. Fá-lo-ão, através de jogos teatrais, improvisos e interacção com adereços.
Este ano, serão baldes e alguidares, que permitirão explorar o tema Gentes, depois de, no ano passado terem sido malas e sapatos. No final do curso, no dia 11 de Fevereiro, em frente ao público, haverá uma "curta de teatro", pequena apresentação que não terá mais de 20 minutos e que será construída a partir de elementos que a coordenação da Oficina de Teatro retirará das várias sessões e com os quais criará um objecto teatral final.