Entre a paixão pela arquitectura e o gosto pelos computadores, associado a maiores perspectivas de empregabilidade, Pedro Neto optou pela Engenharia Informática. Natural de Vermoil, Pombal, formou-se no Politécnico de Leiria e hoje, a viver nos EUA, dirige uma equipa de desenvolvimento de aplicações móveis para a Apple, a gigante tecnológica que o contratou há cerca de quatro meses. Pelo meio, ficou uma experiência de sete anos no Luxemburgo, onde trabalhou numa empresa que prestava serviços à Comissão Europeia.
“Perfeitamente adaptado” à vida de português no mundo, Pedro Neto assume, no entanto, que a decisão de emigrar não foi fácil. Durante algum tempo, resistiu aos convites, até que, em 2013, se mudou para o Luxemburgo, para trabalhar numa startup especializada em tecnologia Oracle, área onde tinha trabalhado até então, primeiro numa pequena consultora em Lisboa, logo após a conclusão da licenciatura, integrando a equipa responsável pela reformulação do Portal das Escolas do Ministério da Educação, e depois na Nova Base.
“Curiosamente, acabei por ir parar ao mesmo projecto onde estava anteriormente”, conta o engenheiro informático, de 44 anos, que esteve cinco anos na Nova Base Trabalho na Comissão Europeia. Se em termos sociais a adaptação ao Luxemburgo se revelou “pacífica”, a nível profissional a transição teve as suas dificuldades.
“Estava habituado a uma empresa com uma grande estrutura, que era uma marca forte no mercado, com projectos muito importantes, e fui parar uma startup, sem estrutura. A pessoa dos recursos humanos era a mesma da administração”, conta Pedro Neto, que acabou por ficar na empresa sete anos, integrando projectos em vários países, como França, Alemanha, Grécia, Itália e nos Emirados Árabes Unidos.
Trabalhou também com a Comissão Europeia, numa equipa responsável pela implantação de uma plataforma Oracle de troca de informação confidencial entre Estados-membros relacionada com impostos e importação alfandegária. “Aconselhava a Direcção de Informática da CE em questões técnicas relacionadas com o desenvolvimento, implementação e evolução da plataforma.”
Chegar aos EUA antes da Covid
A mudança para os EUA aconteceu no início de 2020, quando a esposa, italiana de Nápoles, teve a oportunidade de se mudar para a sede da Amazon, em Seatle. Pedro Neto estava – estávamos todos – longe de imaginar o que aí vinha. Duas semanas depois de se instalar, o mundo via-se confrontado com uma pandemia que tomou proporções que, então, pareciam inimagináveis. E, pouco tempo depois, o país foi assolado por protestos, e confrontos entre manifestantes e polícia, em reacção à morte de George Floyd, após uma intervenção policial violenta. Foram, assume, tempos difíceis, em que se sentiu “um pouco desterrado”.
No meio da tempestade chamada Covid-19, conseguiu trabalho numa empresa de telecomunicações – a T-Mobile, que é proprietária da Deutche Telekom na Alemanha -, na qual esteve cinco anos, a gerir equipas de desenvolvimento de aplicações móveis. Há cerca de quatro meses mudou-se para a Apple, onde trabalha na mesma área.
“Tem sido uma experiência muito gratificante. É uma empresa com uma grande estrutura e com pessoas muito pró-activas”, partilha Pedro Neto, confessando, no entanto, alguma apreensão pela situação que se vive nos EUA, quer em termos económicos, pelos impactos da ‘guerra’ de tarifas, quer pelo contexto político e pela estratégia anti-imigração da administração Trump.
“Como posso fazer teletrabalho, vou três ou quatro vezes por ano a Portugal. Estou até a recuperar a casa de família [em Vermoil]. Neste momento, tenho algum receio de passar a fronteira. Também penso duas vezes no que publico nas redes sociais e evito comentários políticos”, admite o informático, que, no entanto, não tenciona deixar os EUA. “Se eventualmente regressarmos à Europa, será para o Luxemburgo. É um país que gostamos muito e com muitas oportunidades no mercado informático.”