Não é qualquer um que vai aos Jogos Olímpicos. E, muitas vezes, não é o esforço que garante a presença no maior palco desportivo do mundo. Tudo se resume a dois ou três momentos que separam o sonho olímpico da decepção.
Vânia Silva é uma das leirienses mais experientes neste campo. Tem cinco presenças em Campeonatos do Mundo, três Europeus três Europeus e três Olimpíadas.
Em Portugal, bateu o recorde nacional 13 vezes no lançamento do martelo e conquistou 21 títulos. Uma carreira que dá inveja e que lhe ter sido a primeira leiriense a pisar o palco dos Jogos Olímpicos.
A carreira terminou no ano passado, mas nem por isso o desporto ficou em segundo plano. Mantém-se como professora de educação física em Elvas e dedica-se ao padel, desporto que lhe permitiu assistir de forma assídua aos Jogos Olímpicos Paris 2024, não pelas melhores razões. A recuperar de uma operação ao menisco, a antiga atleta vibra com cada lançamento, ainda mais quando estamos a falar de atletas portugueses.
Vânia Silva gosta de recordar as presenças em Atenas, Pequim e Londres, um “sonho” comum a desportistas de topo, que não é alcançável a todos. “É treinar, treinar, treinar. Treinamos para conseguir o mínimo e depois temos de provar que estamos bem. Temos de estar ainda melhor nos Jogos, o que não é fácil, ter estes picos todos”, sublinha, uma vez que a dificuldade aumenta para atletas que não vivem exclusivamente do desporto.
Mesmo com todo o treino, Vânia Silva acredita que a vitória não está só na forma física. Primeiro, é preciso ter “o sonho”, a vontade de vencer, para provar do que se é capaz. “Às vezes, a nossa medalha é ir lá. Há portugueses que não percebem isso porque não entendem o esforço sobrenatural que fazemos para poder ir”, admite.
Ao minuto, a antiga lançadora do martelo segue os resultados dos atletas portugueses. “Emocionei-me muito com a Patrícia [Sampaio]”, confessa, pelo meio do zapping à procura da prova da leiriense Irina Rodrigues.
Mesmo do outro lado do ecrã, Vânia Silva sabe o que a discóbola leiriense sentiu naquela eliminatória. “São quatro anos de treino reduzidos a três lançamentos”.
A medalha olímpica, para Vânia Silva, foi marcar presença. E dessas, conquistou três. “Nunca pensei nas medalhas. Quer dizer, toda a gente pensa, mas há sonhos irreais e, no meu caso, sabia que era irreal. A medalha sempre foi o estar presente.”
Na análise da prestação de alguns atletas, o antiga lançadora de Leiria olha para Diogo Ribeiro com esperança. O nadador de 19 anos não chegou às meias-finais dos 100 metros mariposa. “Ele vai alcançar grandes marcas. Mas este foi o primeiro ano, calma”, afirmou a voz da experiência.
A medalha de bronze da judoca Patrícia Sampaio esboçou um sorriso na cara da antiga atleta olímpica – e em milhares de portugueses – mas as provas continuam e, até 11 de Agosto, nada está fechado.
No atletismo, já diversos corredores ‘caíram’, facto que Vânia Silva explica rapidamente. “Só aqueles que conseguem viver do atletismo conseguem também ter grandes resultados. Isto não é futebol, infelizmente.”