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Entrevista | João Tordo: “Cada pessoa move-se segundo os seus vazios e as suas feridas”

Cláudio Garcia por Cláudio Garcia
Abril 11, 2019
em Entrevista
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Entrevista | João Tordo: “Cada pessoa move-se segundo os seus vazios e as suas feridas”
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Neste livro, quando é que percebeu que precisava, ou preferia, quatro personagens femininas para o escrever? 
Quando comecei a escrever o romance, queria escrever sobre uma pessoa que conheci há uns anos, em circunstâncias que não vou explicar, mas era uma rapariga muito nova, que vivia na rua, uma sem-abrigo. Ao final de um tempo de tentativa de comunicação, percebi que ela tinha nascido em Inglaterra, que a mãe era portuguesa, que a mãe a tinha trazido para cá aos quatro anos e a tinha abandonado. Viveu em vários lares de acolhimento, até que aos 16 anos estava na rua. A história dela tocou-me bastante e fiquei a pensar que gostaria de escrever alguma coisa acerca dela, não sabia exactamente como. Acho que o livro começou aí, nessa vontade. E depois também a vontade de fazer aquilo que acho que a literatura faz, que é abrir um caminho que não existe no mundo real, abrir possibilidades. Portanto, o que tentei fazer no livro foi contar a história dela, como se ela não tivesse desaparecido da minha vida tão jovem, porque deixei de a ver. Quis abrir uma possibilidade. No livro há o reencontro da Lia, que é a sem-abrigo à qual eu tentei dar uma vida, que aos 30 anos reencontra a mãe que a abandonou, mas reencontra também uma enorme desilusão. As personagens todas foram acabando por girar em volta de um centro que se chama Beatriz, que é a personagem que narra a história e que é uma espécie de alter ego feminino meu. 

As mulheres são personagens mais intensas do que os homens? 
São diferentes. A vulnerabilidade masculina é muito diferente da vulnerabilidade feminina. E a maneira de ver o mundo. Eu cresci rodeado por mulheres e conheço mais ou menos como pensam, sentem, agem e isso ajudou-me bastante na escrita do livro. O que senti é que às tantas já não era eu, era mesmo a Beatriz que estava a contar aquela história. E a sua maneira de contar a história era muito mais compassiva, tinha muito mais empatia, do que normalmente tenho com os narradores que são masculinos. 

Alguma explicação? 
Nós, homens, socialmente e culturalmente, temos tendência a ser educados de uma maneira mais rígida, com menos flexibilidade e de uma maneira um bocadinho mais agressiva. E as mulheres, pelo modo como são educadas, pelo menos em Portugal, têm tendência a desenvolver mais uma capacidade de compaixão que acho que é importante. 

Como é que faz para dar voz às personagens femininas? 
É uma questão de tentativa e erro, de ir ensaiando. Já sabia mais ou menos como poderia lá chegar, depois, sempre que as dificuldades se foram apresentando, acabei por remeter para o período da minha vida em que as mulheres estiveram mais presentes, que foi mesmo a infância. Não só tenho uma irmã gémea como vivia rodeado pela minha mãe, tias, avós, enfim, esse coro de vozes femininas foi-me ajudando bastante sempre que me senti em dificuldades. E depois, às tantas, aconteceu aquilo que acontece aos escritores, quando mergulham de facto num romance: tornam-se as personagens do romance, e portanto, aí, já não há nenhuma dificuldade, a única dificuldade é voltar a ser eu. 

O escritor desaparece atrás das personagens ou, pelo contrário, nasce precisamente por se misturar nas personagens? 
Durante a escrita do romance, desapareço. E isso é muito interessante para mim porque me dá a oportunidade de conhecer caminhos e possibilidades, uma oportunidade de criar empatia com outros que não sou eu, outros modos de ser e de estar. E depois dos romances acabo por regressar a mim, sempre com dificuldade. Quando acabo um romance fico umas semanas bastante combalido, como se aquilo fosse um processo que me é difícil, mas fico combalido e esse regresso a mim, que é necessário e fundamental, acaba por ser, também ele, bastante interessante. 

As vozes que povoam os livros que escreve já existem? Sejam personagens masculinas ou femininas, é um processo de as ouvir e exprimir? 
Há sempre um gatilho exterior que me leva depois a compreender “ok, esta voz está aqui e precisava desse gatilho para ser invocada”, mas sou muito crente nos gregos e acho que os gregos quando falam em oráculos, e quando o Aristóteles define a tragédia com todos aqueles passos, os passos mais engraçados são a audácia e a catarse, sendo a audácia aquele momento em que me desafio a mim próprio a uma nova obra, a um novo livro, e isso significa que tenho de escutar o coro de vozes que estão aqui dentro, a chamar, e depois, seguindo o processo, acaba por ser sempre catártico, no sentido em que muito daquilo que acaba nos livros já existia em mim, mas eu não sabia formulá-lo. 

Tem escrito muito, tem passado quase mais tempo dentro das histórias do que do lado de cá, no mundo real. 
Acho que é metade metade. Mas há um lado de consolo e de refúgio nos livros e na escrita que me proporciona bem-estar e capacidade de, por um lado, ir progressivamente aceitando a vida de escritor como vida solitária, e, por outro lado, ir-me desmascarando através das minhas personagens e através das histórias. 

Há muita ilusão na vida de todos os dias? 
Uma das ilusões mais perniciosas talvez seja a da felicidade. É uma ilusão de que se eu fizer xis e xis e xis e se seguir um caminho tal e tal e tal, vou ser feliz. Não sei se o ser humano está feito para isso, acho que o ser humano está feito para constantemente resolver problemas e constantemente estar em situações de conflito e de luta consigo próprio e de dúvida. Essa é a grande ilusão, de que no fim do caminho há um vale com arco-íris. A felicidade não é um assunto muito importante para mim e por isso me espanto imensas vezes que hoje se escrevam tantos livros sobre os relacionamentos e o amor. É um tema pouco interessante para mim. 

 [LER_MAIS] 

Neste livro, A Mulher que Correu Atrás do Vento, regressa ao tema da perda. 
Há vários temas no livro, um deles é o abandono, outro é o reencontro. Como é que fazemos os nossos lutos pessoais e como é que desenterramos os outros do passado – e o que é que isso significa. É a história de quatro mulheres, tão entrelaçada, tão complexa e tão cosida por fios invisíveis que às tantas não consigo dizer que o livro é sobre uma coisa só. São vários temas. 

Nos livros do João Tordo aparecem frequentemente escritores e outros criadores. 
É o meio em que me movo e acho que sei dizer alguma coisa acerca do processo criativo. Embora sejam quase sempre personagens secundários. Interessa-me muito o processo de criação. De onde nasce, por que é que nasce, por que é necessário, para algumas pessoas. 

Encontrou resposta? 
Cada pessoa move-se segundo os seus vazios e as suas feridas, portanto, nós vamos tentanto ao longo da nossa vida colmatar e pôr pensos rápidos, panaceias, vamos à procura de quem somos e por que fazemos aquilo que fazemos. O processo criativo tem uma enorme vantagem e uma enorme desvantagem. A vantagem é que tem beleza associada, a desvantagem é que muitas vezes nesse processo criativo podemos ficar reféns, escravos dele, e esse é o perigo. 

O João Tordo que estudou filosofia convive muitas vezes com o João Tordo escritor? 
Alguns ensinamentos foram ficando. Foi importante porque ainda hoje muitas vezes quando estou a escrever me lembro de Platão, Santo Agostinho, Kierkegaard, mas li os filósofos como se fossem romancistas, até a minha tese final de curso foi sobre um romance, sobre o George Orwell. E, portanto, a filosofia talvez esteja presente, mas é uma presença muito mascarada.

Os leitores “têm uma inteligência muito diferente de quem escreve, [são] muito mais perspicazes”

Os escritores são cada vez mais solicitados para promoção e apresentação dos livros? 
Tudo acontece, nunca tudo ao mesmo tempo, mas, por exemplo, esta semana vou à Suíça, depois volto, fico cá durante a Feira do Livro, depois vou viajar outra vez, mas, o que acontece é que esse efeito também está um bocadinho a desaparecer, ou seja, há 10 ou 15 anos, de repente, os escritores passaram a ser viajantes, também, mas de tanto contacto com o público, às tantas, quando se oferece uma coisa muitas vezes, ou demasiadas vezes, as pessoas também perdem o interesse, não é? Com tanto festival literário e tanta presença do público junto dos escritores, às vezes, pode ter um efeito contraproducente. Continua a acontecer, mas é cada vez mais difícil motivar o público, porque quando se vê um escritor que está constantemente na esfera pública, ele deixa de ser um objecto interessante, porque está sempre disponível. 

O escritor é mais interessante como figura enigmática do que como estrela rock? 
Pode ser as duas coisas, mas para ser estrela rock precisa de ter um certo estatuto, que nenhum escritor em Portugal tem. Há alguns escritores americanos que são estrelas rock, não há nenhum em Portugal que seja. Em Portugal, se te expões demasiado gastas muito a tua imagem. O facto de as pessoas, por exemplo, terem todas imensa curiosidade sobre Herberto Helder, que foi um tipo que nunca deu entrevistas e que nunca apareceu, criou essa aura de mistério em torno de si próprio. Não estou a dizer que seja essa a solução, mas, às vezes, há um excesso de exposição. 

Como é que o João Tordo se sente nessa rotina? 
Bem, porque gosto muito do contacto com os leitores, gosto de ouvir e perceber o que é que as pessoas gostaram nos livros, como é que os vêem, gosto de falar dos livros, também, mas, claro, tenho o meu limite de presenças públicas que faço por ano. 

O que as pessoas dizem sobre os livros costuma surpreendê-lo? 
Às vezes são muito surpreendentes coisas que dizem que eu nem sequer tinha reparado. Por exemplo, há uns anos, por acaso aqui na Arquivo, em 2015, acerca de um romance meu, uma senhora dizia que tinha apontado a quantidade de vezes que aparecia o número dois e a palavra dois – e eram centenas de vezes. Neste último livro, outro dia um leitor disse-me que o livro o tinha deixado muito ansioso porque o final fica em aberto e ele precisava de saber o que é que acontecia àquela personagem cujo desfecho não se conhece. Portanto, acho que as pessoas quando lêem os livros têm uma inteligência muito diferente de quem os escreve, muito mais perspicazes. É muito engraçado esse encontro. 

Acontece escrever quando está em viagem?
Às vezes, sim, acontece, porque não tenho outra solução, mas eu sou, por natureza, uma criatura sedentária. Gosto de viajar, e nestes 15 anos a publicar livros viajei por toda a parte do mundo, foi incrível, mas sou por natureza uma pessoa sedentária, como acho, aliás, que os escritores têm tendência a ser, mesmo os mais aventureiros têm um lado profundamente sedentário, porque a escrita, pelo menos para mim, e para os escritores que gosto de ler, tem um lado de tranquilidade, de reclusão, de introspecção, de profundidade – psicológica, quase – que só consegues quando estás quieto na tua própria presença durante um tempo prolongado. A escrita é um processo solitário. Eu só chego a isto quando tenho tempo para mim durante um período prolongado. Se estou sempre em movimento, a maneira como percepciono o mundo torna-se muito diferente e a maneira como reajo também se torna muito diferente.

Prémios e traduções numa obra intensa. Já está a escrever o próximo, mas, por enquanto, A Mulher que Correu Atrás do Vento é o novo livro de João Tordo, nas livrarias há menos de um mês, com edição da Companhia das Letras. É o décimo segundo romance desde 2004, numa obra reconhecida muito cedo e distinguida em 2009 com o Prémio Literário José Saramago. Em A Mulher que Correu Atrás do Vento, narrado entre 1892 e 2015, desenrola-se a história de quatro mulheres, separadas por três cidades e quatro datas diferentes. João Tordo nasceu em Lisboa em 1975 e é formado em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa. Viveu em Londres e nos Estados Unidos. Tem livros publicados em vários países, incluindo França, Itália, Alemanha, Brasil, Hungria, Espanha, Argentina, México e Uruguai.
Etiquetas: a mulher que correu atrás do ventoJoão Tordo
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