O número de alunos no ensino profissional em Portugal tem aumentado significativamente. A que se deve esse crescimento?
Uma das principais razões prende- se com o facto de as escolas públicas passarem a ter ensino profissional. Mas, apesar do aumento, ainda não atingimos o desígnio do Ministério da Educação de ter 50% dos alunos no ensino profissional. Andamos ainda pelos 42%. A nova meta apontada pela tutela é de 55%. Esta pressão do Ministério da Educação para haver mais alunos neste ensino reflecte as necessidades do mercado de trabalho e das empresas. É absolutamente crucial dar resposta a essa necessidade. O ensino profissional é absolutamente estratégico para a diferenciação e competitividade das empresas.
Está ultrapassada a imagem que associava o ensino profissional a alunos com maiores dificuldades de aprendizagem?
Essa imagem está a esbater-se. Hoje, o ensino profissional já é visto como uma excelente porta de entrada dos alunos no mercado de trabalho e encarado por muitos como uma estratégia para ingressar no ensino superior.
Na ETAP, qual é a percentagem de alunos que continua os estudos após a conclusão do ensino profissional?
Em quase todos os cursos temos percentagens superiores a 20%, sendo que no de Técnico Auxiliar de Saúde essa percentagem chega quase aos 50%. Isso acontece por se tratar de um ensino muito prático, o que torna a aprendizagem mais estimulante.
Os cursos profissionais, pelo menos, os mais técnicos, tornaram-se tão exigentes como o ensino regular. Por que razão alunos com uma prestação menos boa ainda continuam a ser encaminhados para o profissional?
Prefiro não ver as coisas dessa forma, porque ao fazê-lo estamos a olhar para o ensino profissional como um ensino redutor, que não o é. Seria importante que as escolas e as famílias permitissem aos alunos conhecerem as múltiplas opções que têm à saída do 9.º ano, para que possam decidir da forma mais informada e correcta possível. Muitas vezes, os alunos são privados de conhecer o que se passa nas escolas em redor da sua. Isso é um factor limitativo para o ensino profissional, mas, acima de tudo, é limitativo para as empresas e para as necessidades do mercado de trabalho.
Os pais ainda mostram reservas quando os filhos dizem que querem seguir o ensino profissional?
As coisas vão mudando. Durante o período datroika, as famílias perceberam que, havendo um desemprego muito elevado, com taxas que ultrapassaram os 30% entre os jovens, os alunos que saíam do ensino profissional, de uma forma geral, tinham emprego. Isto ajudou a que as pessoas começassem a perceber a extrema utilidade que constitui este tipo de ensino.
[LER_MAIS] A oferta das escolas públicas neste tipo de ensino é concorrencial ou complementa a das escolas profissionais?
É diferente. O facto de as escolas públicas passarem a ter o ensino profissional foi positivo. Tornou este ensino mais acessível e com uma oferta mais condizente com as necessidades do País. Obviamente, as escolas públicas têm condições diferentes e, de uma forma geral, ministram cursos em áreas muito diversas das escolas profissionais. Estas, oferecem cursos em áreas mais técnicas e menos da 'moda', mas que vão mais ao encontro daquilo que o mercado precisa. Na nossa escola temos apostado em alguns cursos que não existiam no País, como é o caso do de Transformação de Polímeros, ou que têm uma oferta formativa muito escassa e em áreas nas quais há uma necessidade muito grande por parte do mundo empresarial.
Em quatro anos, a ETAP mais do que duplicou o número de alunos. A que se deve este aumento?
Deve-se, antes mais, ao trabalho de muitas pessoas, onde se inclui uma gerência e uma administração e a sua visão estratégica para a escola, que permitiu que ela se tornasse mais próxima e mais útil ao meio empresarial e aos alunos. Há, depois, toda uma equipa que tem contribuído com o seu empenho e a sua motivação para que o ensino seja mais prático e mais estimulante. A ligação à comunidade, nomeadamente, ao tecido empresarial local e regional é uma das apostas da ETAP.
Que reflexos tem tido essa estratégia na vida da escola?
No dia em que a escola não for útil aos alunos e ao tecido empresarial que a envolve, não faz sentido existir. Esse é um ponto crucial. Temos de estar alinhados com as necessidades do meio e sermos úteis aos alunos. A missão da escola não se esgota na formação dentro de quatro paredes. Passa também por orientar e criar oportunidades para os alunos, nomeadamente para aqueles que vêm um pouco descrentes do ensino, permitindo que passem a olhar para o ensino de maneira diferente e conseguindo integrá-los no mercado de trabalho.
Qual a taxa de empregabilidade da ETAP?
Na generalidade dos cursos anda acima dos 90% e em algumas áreas, como a mecatrónica automóvel, chegamos aos 100%.
Está prevista alguma alteração à oferta formativa no próximo ano lectivo?
Nos últimos quatro anos, introduzimos três cursos novos: Técnico de Transformação de Polímeros, Técnico de Programação e Maquinação (CNC) e Técnico de vendas. Nesta fase, devemos estabilizar esta oferta, criando as melhores condições possíveis para ministrar os cursos. Além dos cursos profissionais, temos outras ofertas, como os cursos de educação e formação para alunos, um Centro Qualifica e formação de curta duração dirigida à comunidade em geral e às empresas.